As aldeias que vão ser afectadas quando a albufeira começar a encher, em meados de Março, situam-se nas duas margens do Rio Kwanza, encontrando-se seis localidades na margem esquerda (Kwanza Sul) e uma na margem direita, Malanje.

O responsável pela área social da Odebrecht, empresa brasileira responsável pela construção da barragem de Laúca, Esteves Mibela, explicou aos jornalistas, durante uma visita ao local do governador provincial de Malanje, que estão englobadas no processo de recolocação 143 famílias, englobando cerca de meio milhar de pessoas.

Cada família realojada, ainda segundo Esteves Mibela, vai ter direito a um apartamento T3, situados num espaço com equipamentos sociais, incluindo escola, posto policial, mercado e, entre outros, uma igreja.

Norberto dos Santos "Kwata Kanawa", governador de Malanje, disse que, apesar de estarem a sair de locais onde sempre viveram, as pessoas que vão ser realojadas "não terão dificuldades de adaptação", porque estão garantidos os serviços essenciais.

A barragem de Laúca, em construção no curso do rio Kwanza situado na província de Malange, vai começar a encher em Março naquele que é um processo que conduzirá ao pleno funcionamento desta hidroeléctrica em 2018, quando estará a produzir mais de 2000 megawatts eléctricos com um custo total de 4,5 mil milhões de dólares.

A Laúca é uma das três barragens hidroeléctricas situadas no rio Kwanza consideradas vitais para resolver o problema do abastecimento de electricidade às mais importantes urbes angolanas, com destaque para Luanda.

Esta barragem, cujo investimento total, suportado pelo Estado, teve no financiamento brasileiro o impulso decisivo, ainda tremeu depois de ter estado envolvida na complexa teia da corrupção brasileira do processo Lava Jato, que levou o Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social (BNDES) a anunciar em Outubro de 2016 que estava suspensa a sua participação em projectos angolanos, entre os quais o da Laúca.

Com o curso das obras de novo a escorrer nesta parte do vale do rio Kwanza, o projecto da Laúca, que será o de maior potencial de produção de electricidade em Angola, com capacidade instalada de 2 070 megawatts, uma nova questão se está a levantar para que o prazo de Junho deste ano para o arranque da produção na primeira das quatro turbinas previstas.

É que está a chover menos que o esperado no centro do país, como admitiu esta semana o ministro da Energia e Águas, e, por isso, o sistema hidroeléctrico de Cambambe, que por estar situado a jusante da Laúca, tem menos água disponível e precisa de uma maior escorrência a partir da Laúca, que não poderá encher com o ritmo inicialmente considerado.

Esta a situação pela qual Cambambe verá diminuída uma parte dos seus 960 megawatts potenciais, o que, adiantou Batista Borges, irá ter impacto no abastecimento a Luanda, cerca de 40 por cento menos energia desta unidade, mas também em locais de Malanje, Uíge, Kwanza Norte, entre outras províncias, tendo os responsáveis que improvisar novos métodos de gestão do caudal para minimizar o impacto da escassez de pluviosidade.

Outra forma de minimizar esta redução na produção de Cambambe, e enquanto Laúca não entra em pleno funcionamento, a rede nacional vai receber cerca de 120 megawatts a partir da Central de Ciclo Combinado do Soyo.

Mas o fecho deste puzzle e as inerentes restrições deverá suceder quando a Laúca estiver completa nas suas quatro fases, sendo a primeira já em Março, as segunda e terceira entre Abril e Junho e a albufeira estará cheia em 2018, com os 156 metros de muro em altura completos e quase 1250 metros de extensão, que deverão, então, ter à volta de três mil milhões de metros cúbicos de água retidos ao longo de 188 quilómetros de lago artificial.

Laúca, obra entregue à brasileira Odebrecht, com a participação de outras empresas, como a Somague Angola ou a Teixeira Duarte, é a maior obra de engenharia em Angola e a segunda maior do continente africano, e faz parte de um conjunto de três barragens situadas no rio Kwanza, estando situada a montante de Cambambe, e a jusante de Capanda, conjunto que, quando estiver em pleno, deixará de haver razões para as falhas de energia a que Luanda e as mais importantes cidades do país estão habituadas.