Mergulhados num "mundo turvado por aflições económicas, cinismo político, vazio cultural e desesperança pessoal", agora é tarde demais.

Depois da ZAP, a retirada das emissões da SIC-Notícias e da SIC- Internacional da grelha de programas da DSTV veio desenterrar a sua "Crónica de Uma Morte Anunciada".

Dessa trapalhada, a DSTV não pode lavar as mãos como Pilatos.

Depois de ter tomado uma posição pública relativamente à pretensão da UNITA utilizar a sua plataforma para emitir um programa de pendor partidário, esperava-se agora que a sua coluna vertebral se mantivesse erecta.

Conhecendo, porém, como conhecemos a natureza dos interesses em jogo, estava tudo previsto.

Quem ficou surpreendido com a inexplicável e vazia (in)justificação da DSTV, só se pode queixar da sua própria ingenuidade. Era só uma questão de tempo porque era preciso pôr na ordem também a DSTV.

O que a opinião pública esperava, no entanto, saber é se: a) Houve incumprimentos contratuais da parte da SIC? b) Houve pressão para fechar o canal desta estação televisão? c) Quem pressionou? d) E porquê?

A DSTV encolheu, vergou-se a outros interesses, cedeu à chantagem, ignorou os seus subscritores e mandou passear o interesse público.

Os subscritores pagam adiantado, a DSTV reduz o serviço, não reembolsa os clientes e o INADEC não tuge nem muge.

Era mesmo só uma questão de tempo...Quem julgava impossível o desferimento de mais este golpe contra liberdade dos cidadãos terem direito à informação plural revelou desconhecer o ADN dalguns dos poderes instituídos em Angola.

Com o fim daquelas emissões na última janela por onde escoava informação daqueles dois canais televisivos, cabe, pois, problematizar sobre a cadeia de intervenientes na comunicação social.

Nesta barafunda é preocupante, desde logo, o silêncio de grupos de interesse que se opõem a esta estupidificante estratégia. Tudo o que dizem não passa de murmúrios, imobilismo e passividade.

Da oposição também só "berrata sem consequências" e os "opinion makers" oficiais já nem conseguem ficar pelo discurso enrolado. As agendas paralelas, em vésperas de eleições, afinal, ditam os jogos na loj(ic)a das conveniências.

Estando aberta a polémica, não deixo, porém, de reconhecer que os poderes instituídos no nosso país têm toda a legitimidade para exigir o escrutínio da actividade dos órgãos de comunicação social, sejam eles públicos, sejam eles privados. Porque muitos jornalistas têm a tendência de se arvorarem em ser o "Quarto Poder" quando por aqui não passam de um "Quarto do Poder".

Porque muitos jornalistas quando não se comportam como a caixa-de-ressonância do poder, têm a tendência para se oferecerem como instrumentos da oposição. Uns e outros, não resistem à tentação de engalanarem a clientela dos partidos...

(A opinião de Gustavo Costa pode ser lida na íntegra na edição semanal do Novo Jornal, nas bancas, ou em formato digital, cuja assinatura pode pagar no Multicaixa)