Esta segunda-feira, 08, está a ser tal como se esperava, de um turbilhão sem sentido definido, como o resto da semana vai, seguramente demonstrar, até porque está tudo em aberto no vasto barril de pólvora que é o Médio Oriente... e nem é Gaza que mais inquieta.

Fez este Domingo, 07, seis meses, redondos como o fundo de um barril de crude, que a invasão israelita a Gaza, depois do assalto do Hamas ao sul de Israel, destronou a guerra na Ucrânia como o factor principal para o sobe e desce nos mercados petrolíferos.

E assim continua... só que, de uma razão para fazer subir e descer os gráficos dos mercados petrolíferos, o que se está a passar por estes dias no Médio Oriente, pode ser muito mais que isso, pode, alias, ser algo nunca visto e, como tal, impossível de antecipar o seu impacto.

É que em aberto está, como os rumores crescem a cada hora que passa até ao nível do insuportável, um ataque retaliatório do Irão ao míssil israelita que a 01 de Abril matou 11 pessoas, entre as quais dois generais de topo da Guarda Revolucionária iraniana, no consulado do Irão em Damasco, a capital da Síria.

O Médio Oriente produz perto de 40 % do petróleo consumido diariamente em todo o mundo e uma guerra desta envergadura não deixaria pedra sobre pedra, ou seja, a fasquia dos 100 USD para o barril da matéria-prima seriam trocados sem relevância para o custo desta evolução no atrito israelo-iraniano.

Ou seja, se a resposta iraniana for directa sobre Israel ou as suas representações diplomáticas, nada, ou quase nada, poderá travar uma escalada para uma guerra aberta entre os dois mais robustos exércitos, implicando, seguramente, a entrada, directa ou indirecta, dos EUA na refrega enquanto seu maior aliado com acordos de segurança firmados há décadas.

E do lado iraniano, rapidamente, Rússia, principalmente, mas também a China, com quem Teerão assinou vários tratados nos últimos anos, directa ou indirectamente, saltariam para a fogueira, fazendo deste cenário o mais abrasivo em décadas entre as maiores potências militares planetárias.

Vários analistas notam que nem EUA nem China ou Rússia têm o mínimo interesse em dar gás a uma guerra Israel-iraniana, mas, como as coisas estão, dificilmente estas três potências planetárias têm a última palavra a dizer sobre essa hipotética evolução.

Isto, porque há muito que se sabe que o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyhau, e o seu Governo de radicais ideológicos e religiosos, corre por fora desta equação, porque a sua sobrevivência política depende de manter a fricção militar em alta, seja em Gaza, seja... no mundo.

Puxar os Estados Unidos para o vasto conflito que se espalha rapidamente de Gaza para o resto do Médio Oriente, basta ver o que se passa na fronteira israelo-libanesa, ou no Mar Vermelho, com os rebeldes Houthis do Iémen, seria a tábua de salvação de Netanyhau.

Se o vai conseguir ou não, é extemporâneo afirmá-lo, mas esse passo em nada interessa a Joe Biden, pelo menos enquanto for a economia que mais afecta a sua campanha eleitoral, especialmente pela via do impacto do preço do crude no dia a dia do eleitor médio norte-americano.

E é neste caldeirão de incertezas que o barril de Brent iniciou esta semana a agarrar-se com unhas e dentes à fasquia dos 90 USD, tendo derrapado para os 89,65 nos primeiros minutos, com o frenesim gerado pela esperança de um acordo de cessar-fogo entre o Hamas e Israel nas negociações que decorrem no Cairo, Egipto.

Depois, com Netanyhau a desdenhar dessa possibilidade, e de o Hamas, refrear os ânimos, o Brent voltou a instalar-se nos 90 USD, chegando, perto das 11:10, hora de Luanda, aos 90,57 USD, embora ainda a perder quase 0,70% face ao fecho de sexta-feira, 05.

Para já, como se pode ler nas diferentes agências de notícias, o factor retirada do sul de Gaza de milhares de soldados israelitas, aida se vai sobrepondo ao risco do confronto directo israelo-iraniano... Até quando?, é a questão.

Até porque, embora menos mediático, para já, pendendo sobre este contexto está ainda o contínuo alargamento do défice de abastecimento de matéria-prima nos mercados, seja devido às restrições na produção da OPEP+, seja no impacto do clima e das guerras nas fontes de extracção.

Recorde-se que a OPEP+ responde por quase 45% do petróleo extraído diariamente em todo o mundo, que é actualmente cerca de 103 milhões de barris por dia (mbpd) - só russos e sauditas podem facilmente chegar aos 20 mbpd - e tem em curso um programa que retira artificialmente de circulação perto de 3,7 mbpd, incluindo 1,5 mbpd que Moscovo e Riade assumem à margem dos acordos do "cartel", que é de 2,2 mbpd.

E, no que realmente importa quando se olha para este fenómeno a partir de Luanda, enquanto o pau vai e vem, folgam as costas do deve e haver angolano, que, com o barril de Brent nos 90 USD, aumenta o seu conforto face ao valor médio com que foi elaborado o OGE 2024.

Visto de Angola

Apesar de ter abandonado a OPEP recentemente, Angola, que é um dos produtores e exportadores que mais dependem da matéria-prima em todo o mundo, devido à escassa diversificação económica, ter o Brent nos 90 USD permite, embora não seja o antidoto definitivo, diluir alguns dos efeitos devastadores da crise cambial e inflacionista, até porque o país enfrenta também o problema da persistente redução da produção diária.

Com OGE 2024 elaborado com um valor de referência médio para o barril de 65 USD, estes valores actuais permitem um relativo optimismo, mas aumentar a produção é o factor-chave, o que ficou mais fácil depois de Angola ter, em Dezembro passado, anunciado a saída de membro da OPEP, o que deixa um eventual acréscimo da produção fora dos limites impostos pelo cartel aos seus membros como forma de manter os mercados equilibrados entre oferta e procura.

O crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.

O Presidente da República, João Lourenço, deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,12 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.

O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.