O negócio do tráfico de combustíveis, gasóleo e gasolina, de Angola para a RDC é uma constante nos últimos anos, especialmente depois dos significativos aumentos verificados no país vizinho que, apesar de também em Angola se terem registados aumentos volumosos, continua a existir uma diferença substancial.

Por exemplo, um litro de gasolina na RDC, em média, custa cerca de 30 cêntimos de dólar a mais que em Angola, cerca de 1 640 francos congoleses (1,20 USD) contra 160 kwanzas (0,96 USD), o que facilmente permite entender que um volume grande de combustível traficado permite obter avultados lucros.

Mas, o negócio é ainda mais lucrativo tendo em conta os preços praticados no mercado negro, que, especialmente na RDC, gera avultadas somas.

A razão para isso é que uma grande parte do território congolês não tem acessos rodoviários em condições mínimas para que o transporte de combustível ocorra de forma normal, muito por causa da degradação da malha rodoviária do país desde os anos de 1980 por causa das sucessivas situações de conflitos.

O problema é ainda mais acentuado nas áreas do Sul e do Centro da RDC, nomeadamente no Kasai Central e no Kongo Central, com proximidade geográfica a Angola, onde a maior parte das vias são de terra, e o combustível que chega às zonas mais remotas é vendido a preços que chegam, por vezes, ao triplo do que é praticado nas cidades, permitindo ainda maior rentabilidade à gasolina e ao gasóleo angolanos.

O lucro significativo que a venda de combustíveis adquiridos em Angola permite quando revendidos nestas regiões da RDC é o que explica o risco que dezenas de angolanos e congoleses correm ao passar combustíveis pela fronteira de forma ilegal.

Se as apreensões são divulgadas pelas autoridades angolanas, mais difícil é ter dados estatísticos da quantidade que atravessa a fronteira sem ser detectado, embora uma fonte conhecedora desta situação tenha garantido ao Novo Jornal online que todos os dias são "passados" várias centenas de bidons de 25 litros.

Recorde-se que Angola partilha uma fronteira de mais de 2 500 quilómetros com a RDC, com as províncias do Zaire, Lundas, Norte e Sul, Moxico e Cabinda na linha da frente, e estes dados divulgados pela polícia em Mbanza Congo referem-se apenas à província do Zaire, num período de pouco mais de uma semana.

Um dos problemas associados a este tráfico é que, para além de permitir o aproveitamento do facto de os combustíveis serem subsidiados pelo Estado angolano por forma a manter os preços controlados, há ainda a questão dos impostos que não são cobrados com a sua revenda, em valores cujo cálculo, se não é impossível de fazer, é, pelo menos, muito difícil por não existir um valor de referência para os volumes que atravessam ilegalmente a fronteira.