A última evacuação foi anunciada no Sábado pela empresa de mineração Vale, uma das maiores produtoras de ferro do mundo, dona da barragem de Brumadinho e que está a ser acusada pela justiça brasileira e por organismos cívicos de desleixo e negligência que deu lugar à tragédia de 25 de Janeiro e já tinha provocado um desastre semelhante no passado recente.

Nesta evacuação foram retiradas duas centenas de pessoas de áreas habitadas e na linha de enchente em caso de ruptura da represa que serve uma mina de extracção de ferro em Nova Lima, a cerca de 30 quilómetros de Belo Horizonte, e envolveu a protecção civil brasileira e os bombeiros locais.

As outras duas evacuações, igualmente por causa de risco de colapso de barragens de serviço à extracção de minério, obrigaram ao deslocamento forçado de mais de 500 pessoas, igualmente em Minas Gerais mas pertencendo um delas a uma empresa diferente, a ArcelorMittal, sendo que uma delas também é património da Vale.

Entretanto, a justiça brasileira continua a investigar a alegada negligência da Vale que esteve na génese da tragédia de Brumadinho, onde para além dos 166 mortos há ainda dezenas de desaparecidos, e de Mariana, em 2015, tendo o Ministério Público ordenado a detenção de oito pessoas, funcionários da empresa.

Entre estes detidos, estão responsáveis pela segurança da estrutura e ainda quatro responsáveis por cargos de chefia com ligação à segurança e estabilidade da represa.

Estão igualmente em cima da mesa crimes de natureza ambiental, porque, de acordo com um estudo feito por uma organização ambiental a SOS Mata Atlântica, mais de 300 quilómetros do curso do rio onde ocorreu o desastre ficaram severamente poluídos com o detritos armazenados na barragem e que, em grande parte, contêm químicos e outros produtos nocivos usados na extracção de fero.

Acresce ainda a este registo a destruição de cerca de 150 hectares de florestas com a enxurrada provocada pelo colapso da estrutura que, segundo os técnicos ouvidos pela imprensa local, foi, tal como as outras, construído segundo um processo pouco seguro que é gerar degraus em terra proveniente da própria mineração de forma a ir estancando a água, num processo em crescendo em altura e largura.

Esta técnica de construção é menos segura e é utilizada pelas mineradoras como a Vale por ser muito mais barato que outros processos e porque, até agora, como se viu após o desastre semelhante de 2015, em Mariana, em caso de acidente, os responsáveis raramente são punidos e o impacto das coimas na contabilidade das firmas é (era) residual.