Este anúncio é claramente o início de uma forte campanha diplomática para colocar a China no topo dos países que lideram o combate a pandemia da Covid-19, cumprindo aquilo que o próprio Presidente Xi JInping tinha dito muito antes sobre o papel que estava reservado à indústria farmacêutica chinesa para apoiar os países menos favorecidos no combate à infecção.

De entre as mais de uma dezena de vacinas quase prontas, a China tem garantida a entrada em produção de pelo menos três já durante o mês de Dezembro, prometendo inundar o mundo com o seu arsenal de combate à pandemia, o que, segundo alguns analistas, poderá fazer os esforços em curso na Europa, desde logo no Reino Unido, onde na terça-feira teve início a primeira fase de uma campanha de vacinação geral, parecerem coisa de pequena dimensão.

Xi Jinping, recorde-se, deixou claro que a China não estava a trabalhar na produção de vacinas como forma de com isso ganhar dinheiro mas sim com elas gerar um bem ao serviço da humanidade, o que faz com que este esforço se possa vir a revelar como uma das mais eficazes campanhas diplomáticas de sempre, visto que se trata de um bem que é altamente desejado em todo o mundo, especialmente nas geografias mais debilitadas por crises económicas, muitas delas surgidas no rasto da pandemia, como é o caso de quase todos os 54 países do continente africano, nomeadamente Angola.

E esta ofensiva de natureza diplomática tem, seguramente, também como objectivo apagar a má imagem que a China granjeou com o facto de o novo coronavírus ter surgido numa das suas cidades e sem que tivesse sido possível até então ofuscar as severas acusações feitas pelo Presidente dos EUA, Donald Trump, de que Pequim não soube nem pretendeu travar atempadamente a dispersão da doença.

Wang Junzhi, o vice-director do organismo chinês de vacinas, foi a Wuhan confirmando precisamente essa perspectiva, e sublinhando a traço grosso a idewia lançada por Xi Jinping sobre a liderança que a China aceitou assumir depois de todas as acusações recebidas por Pequim, sempre refutadas mas sem possibilidade de fazer esquecer o princípio da tragédia que se abateu sobre a humanidade a partir daquela cidade do centro do "gigante asiático".

Esta inundação do planeta com vacinas chinesas tem, todavia, alguns obstáculos a vencer, desde logo a gigantesca logística necessária para levar centenas de milhões de doses aos quatro cantos do mundo, esforço para o qual precisa de milhares de aviões, navios e camiões.

Algumas destas vacinas já foram testadas no estrangeiro, como é o caso do Brasil, em cujo estado de São Paulo deverão estar a ser inoculadas já em Janeiro e à Indonésia já chegaram mais de 1,2 milhões de doses.

Esta entrega do empenho industrial e tecnológico chinês ao mundo só é possível, recorde-se, porque a China, apesar de ter sido a primeira vítima, desde cedo conseguiu controlar a pandemia e é hoje um país sem casos de monta intra muros.