As imagens de rios inundados por petróleo bruto escorrido de oleodutos que atravessam a região do Delta do Níger, ou das plataformas no offshore local, com aldeias totalmente cobertas por camadas de subprodutos do crude, valas a arder, são comuns no Delta do Níger, mas não é tudo resultado de fugas acidentais.

Uma boa parte desta poluição resulta de furos nos oleodutos feitos pelas populações locais que vivem da refinação clandestina, em centenas de refinarias improvisadas, onde são recorrentes incêndios que ceifam centenas de vidas todos os anos, e da acção de algumas guerrilhas que chantageiam o Governo de Abuja para manterem o negócio a correr sem sobressaltos.

Todavia, a maior parte da poluição que afecta centenas de milhares de pessoas é resultado do escasso cuidado das multinacionais no controlo das fugas, a falta de manutenção, porque ao longo das últimas décadas, como referem vários relatórios, a corrupção permitiu que as autoridades mantivessem os olhos fechados para esta situação.

E foi isso mesmo que constatou Comissão Petrolífera e Ambiental do Estado de Bayelssa num relatório agora divulgado e onde aponta o dedo especialmente à Shell e à ENI, embora outras companhias também sejam apontadas como responsáveis, estando o orçamento para limpeza estimado em 12 mil milhões USD.

Esta limpeza deverá incidir sobre um vasto território onde nas últimas décadas foram despejados milhões de barris de crude responsáveis por uma "tragédia ambiental e humana sem precedentes e de dimensão inimaginável".

Neste documento, citado pelas agências e sites especializados, está exposta a negligência que as multinacionais dedicaram a este problema durante décadas, onde nunca existiu uma estratégia de prevenção, resposta a acidentes e esforço de minimização de danos pelas companhias petrolíferas que há décadas extraem mais de 2 milhões de barris de crude diariamente, em média, nesta região.

Enquanto a Shell respondeu à Reuters sobre este assunto que não dispõe ainda do documento para apreciação, a ENI atribuiu os problemas a sabotagens e ao roubo de crude dos oleodutos para as refinarias caseiras, o que é contrariado pelo relatório da "Bayelsa State Oil & Environmental Commission" que considera ser por sistema sobreavaliado o impacto real das fugas e dos roubos de petróleo bruto, sendo outras a causas, como as fugas e os acidentes, que estão na génese do problema.

Problemas semelhantes a estes ocorrem em vários países em África devido a uma menor atenção das autoridades e fiscalização deficiente. Em Angola , na província de Cabinda, que tem a mesma importância para Angola que o Delta do Níger tem para a Nigéria, foram noticiados ao longos dos anos vários acidentes que geraram mares negras na orla marítima.