Nas conclusões do relatório elaborado pelo norte-americano CRG, destacam-se a intencionalidade da coligação no poder, liderada por Joseph Kabila, em adiar a realização de eleições com recurso a expedientes para os quais utilizou a Comissão Nacional Eleitoral Independente (CENI), o Governo e o Parlamento, elaborando propositadamente um orçamento para as eleições muito abaixo das necessidades e alocando meios técnicos e logísticos aquém do que seria esperado.
Recorde-se que as eleições de 23 de Dezembro foram marcadas já este ano, depois de duas datas anteriores terem sido anuladas pelo Governo de Kabila, que vai acabar por cumprir mais dois anos além do que a Constituição lhe permitia, tendo em conta que o seu segundo mandato consecutivo terminou em Dezembro de 2016.
Fortemente pressionado pela comunidade internacional, incluindo a ONU, e com destaque para os Estados Unidos da América, e depois de múltiplas e mortais manifestações de rua, das quais, entre Janeiro de 2015 - quando surgiram os primeiros indícios das intenções dúbias de Kabila - e Dezembro de 2017, morreram mais de 400 pessoas em confrontos com as forças de segurança, o ainda Presidente congolês, que estava mesmo decidido a tentar uma 3ª candidatura, acabou por ceder e marcar uma data definitiva: 23 de Dezembro de 2017.
Quando a comunidade internacional e as forças da oposição deram início à pressão sobre o regime de Joseph Kabila, a RDC observou um retomar de actividades guerrilheiras e de milícias que gerou estranheza em muitos sectores, nomeadamente o "acordar" das guerrilhas no leste do país, Kivu Norte e Kivu Sul, e ainda as milícias que espalharam o terror no Grande Kasai, no sul, junto à fronteira com Angola, que terão morto entre 3 a 5 mil pessoas e desalojado cerca de 2 milhões, cerca de 50 mil destes procuraram refúgio em campos de acolhimento na Lunda Norte
Face a este cenário, as possibilidades de a RDC poder ter as primeiras eleições com transição de poder efectivo sem degeneração numa guerra civil ou tumultos de grande violência e prolongados no tempo desde a sua independência, em 1960, foram-se esvanecendo e estão agora claramente postas em causa.
E esta análise do Grupo de Estudos sobre o Congo da Universidade de Nova Iorque vem acrescentar ainda mais dúvidas sobre o que será o "day after" da votação, se esta chegar a ter lugar efectivamente.
Uma das questões mais prementes contidas no relatório do CRG diz respeito ao sistema de votação electrónico, cujas máquinas de voto fabricadas na Coreia do Sul estão a gerar forte resistência entre os partidos da oposição que nelas não depositam confiança suficiente.
A par deste problema de natureza "técnica", o CRG põe à tona da água a questão dos eleitores fantasma, que estima poderem ser mais de 7 milhões, entre os 40 milhões de eleitores registados durante o demorado e polémico registo eleito9ral conduzido pela CENI, o que vai, se nada ocorrer que contrarie esta tendência, expurgar a credibilidade mínima exigida para concluir com sucesso este processo eleitoral na RDC.
"A um mês das eleições, as anomalias no processo eleitoral põem em risco a credibilidade dos resultados. Estas inquietudes contemplam dois elementos essenciais: O ficheiro eleitoral e as modalidades de voto", nota o documento.
Para os analistas do CRG da universidade nova-iorquina, "foi impossível verificar a qualidade do registo destes eleitores - 7 milhões - por falta de uma auditoria cidadã e analises qualitativas dos ficheiros devido à hostilidade da CENI", adianta o relatório, que admite estarem os 7 milhões de eleitores indicados subestimados, podendo estes chegar aos 14 milhões se a Comissão Eleitoral decidir admitir o voto de eleitores fora da sua área, como sucedeu em 2006.
Mas as dúvidas e acusações contidas neste documento não se quedam por aqui.
O CRG sublinha ainda que as eleições de 23 de Dezembro vão ter lugar com uma sucessão de realidades que afectam a sua credibilidade, como seja o subfinanciamento público dos partidos e dos seus candidatos.
Os analistas destacam a desproporção de meios, técnicos e financeiros, entre a Frente Comum para o Congo (FCC), de Kabila e que candidata à sua substituição o seu ex-ministro do Interior, Emmanuel Ramazani Shadary, em quem confia para garantir os seus interesses, e os restantes candidatos, que têm em Félix Tshisekedi, da União para a Democracia e o Progresso Social (UDPS), um dos principais adversários, ou o candidato apoiado pelos pesos-pesados Jean-Pierre Bemba e Moise Katumbi, Martin Fayulu, um antigo homem dos negócios ligado às grandes petrolíferas e político.