O porta-voz da MP, organização política que apoia e é liderada por Joseph Kabila, Sham Balume, reagiu de forma violenta a uma proposta de um dirigente da plataforma que reúne os partidos da oposição congolesa, no sentido de as eleições gerais virem a ser acompanhadas de perto pela comunidade internacional como forma de garantir a sua transparência.
As eleições presidenciais/gerais na RDC já deveriam ter sido realizadas em Dezembro de 2016 mas, devido a uma série de expedientes utilizados pelo Governo de Kabila, como, por exemplo, o protelamento do registo eleitoral, alegadamente por falta de verbas, foram remarcadas para 2017.
Isso resultou de um acordo de última hora assinado a 31 de Dezembro do ano passado, depois de uma série de manifestações organizadas pela oposição para exigir eleições, das quais resultaram centenas de mortos, mas que, através de novos expedientes dilatórios, a MP e Kabila estão a tentar adiar mais uma vez para 2018.
Se assim acontecer, apesar de a oposição já ter dito que não aceitará, Joseph Kabila poderá alongar o seu mandato artificialmente por cerca de dois anos, ou mais, visto que, constitucionalmente, já deveria ter deixado o poder em finais do ano passado, quando em Dezembro terminou o seu segundo mandato.
Face a todo este imbróglio eleitoral, a oposição, agora liderada por Félix Tshisekedi, filho do histórico líder da UDPS, Etienne, falecido já este ano, na Bélgica, já prometeu organizar manifestações para exigir eleições.
Algumas figuras conhecidas já admitiram, como foi o caso do empresário e coleccionador de arte Sindika Dokolo, congolês casado com Isabel dos Santos, que alguns dos conflitos latentes e efectivos em regiões da RDC, como nos Kasai, por acção das milícias de Kamwina Nsapu, tiveram por detrás a mão de Kabila como um dos seus expedientes para protelar o pleito eleitoral.
Apesar de a MP de Kabila rejeitar que a comunidade internacional integre a organização do processo eleitoral, tanto as Nações Unidas como a União Africana, e alguns países individualmente, com destaque para os EUA, Reino Unido e França, já manifestaram preocupações com o actual impasse, tendo uma das últimas manifestações de inquietação sido da embaixadora dos EUA na ONU, Nikki Halley, que, em visita à RDC na semana passada, apelou para que não sejam criados novos entraves à realização das eleições.
Para já, o impasse é claro. Depois de a Comissão Nacional Eleitoral Independente (CENI) ter admitido que só serão possíveis eleições 500 dias após o fim do registo eleitoral, processo que ainda não está concluído e faltam apenas dois meses para que seja queimado o prazo estabelecido para o efeito, 31 de Dezembro deste ano.
Perante este cenário, a oposição acusa a CENI de estar a fazer o jogo de Kabila e começam a subir de tom as ameaças de novas manifestações em Kinshasa, ao que a polícia congolesa já disse que não vai tolerar, adivinhando-se, caso sucedam, novos confrontos.
Como pano de fundo está a possibilidade admitida por toda a comunidade internacional de a instabilidade na RDC alastrar à região dos Grandes Lagos e do resto do continente a partir das nove fronteiras que o país observa, incluindo os tensos Sudão do Sul e RCA, ou, a Leste, o Burundi, Uganda e Ruanda, com múltiplas guerrilhas, de origem interna e externa, a operar no território.