Volodymyr Zelensky quer, à viva força, levar a NATO a aceitar a entrada da Ucrânia contra as regras básicas da organização no que toca a novas adesões, e, para isso, acaba de divulgar uma ordem interna que obriga a rede diplomática de Kiev a forçar os aliados a abrir a posta da Aliança Atlântica.
Se Zelensky conseguir forçar a porta da NATO e colocar a Ucrânia na organização, tem garantido o seu objectivo já enunciado por diversas vezes e em distintas circunstâncias: envolver os EUA e os aliados europeus na sua guerra com a Rússia.
Esse é o seu plano para conseguir sobreviver politicamente, porque, além de já ter passado o prazo do seu mandato, em Maio passado, mantendo-se no poder por conta da Lei Marcial que vigora no país, as sondagens nunca lhe foram tão desfavoráveis. (ver aqui)
E com a Rússia a ganhar terreno na frente de guerra dia após dia, com importantes bastiões a caírem uns após outros, como foram os casos de Robotine, Avdiivka e, mais recentemente, Pokrovsk, cidade que está cercada a e em vias de passar para controlo de Moscovo, abrindo um caminho sem barreiras até à margem do estratégico Rio Dniepre, a Zelensky não resta alternativa a arriscar tudo o que pode.
Face a este cenário de crescente pendor para o lado russo no desfecho do conflito, e com Donald Trump a escassas quatro semanas de distância do regresso ao poder nos Estados Unidos, Zelensky tem agido com evidente desespero, como o mostra o esforço para aderir à NATO.
É que a adesão à NATO, que só poderia ser conseguida se os actuais 32 Estados-membros aceitassem por unanimidade alterar os estatutos desta organização de defesa criada pelos EUA em 1949, significaria uma guerra imediata entre norte-americanos e russos que conduziria inevitavelmente a uma catástrofe nuclear planetária.
Mesmo com esse horizonte claramente inevitável, caso esse cenário se materialize, Volodymyr Zelensky coloca a sua sobrevivência política pendurada na espoleta de uma guerra nuclear devastadora, porque tanto Washington como Moscovo já admitiram que após o primeiro disparo entre as duas superpotências nucleares, um Armagedão atómico seria inevitável.
Além de ter feito um excruciante pedido à sua rede diplomática para forçar o acesso à NATO, o líder do regime ucraniano não cessa de apostar na escalada do conflito com repetidos ataques a alvos no interior profundo da Rússia, além da geografia em disputa na guerra, com os misseis de médio alcance norte-americanos ATACMS, britânicos e franceses, que o Kremlin definiu como uma linha feita a vermelho carregado.
E foi esse acto de escalada no conflito, que resulta da autorização de Joe Biden para o seu uso com esse fim, que levou os russos a usarem uma nova arma, o míssil Oreshnik (ver aqui) contra um alvo ucraniano de forma a avisar que o próximo passo pode ser um contra-ataque em solo dos países aliados de Kiev e da NATO.
Mas a surpresa de Zelensky, que já esta semana recusou uma proposta do primeiro-ministro húngaro, Vikor Orban, actual presidente rotativo da União Europeia, para um cessar-fogo de Natal, estava guardada para este Sábado.
E aconteceu ao lançar um conjunto de drones de longo alcance contra edifícios altos na cidade russa de Kazan, a mais de mil kms da fronteira ucraniana, com estes a embater ao estilo dos ataques contra as Torres Gémeas, em Nova Iorque, em 2001, recriando essas imagens que são das mais simbólicas para a memória e o imaginário norte-americano.
Além destas pedras atiradas para o caminho que Donald Trump, que mantém como objectivo prioritário da sua política externa terminar com a guerra na Ucrânia em tempo recorde, The New York Times, jornal próximo da Administração Biden, noticiou nas últimas horas que os elementos da equipa que com ele devem formar a nova Administração em Washington, afirmaram, de forma anónima, que não haverá um abandono abrupto do apoio a Kiev com a sua chegada ao poder, a 20 de Janeiro.
Este tipo de notícias, que emergem do caldo mediático a par das que já este Domingo o espanhol El País avança, que Trump insiste que Kiev deve aceitar a perda de territórios em definitivo para os russos de forma a abrir caminho para um acordo de paz, visam, provavelmente, criar entraves a esse plano do Presidente-eleito dos EUA.
Além disso, segundo a russa RT, o Kremlin não confirma alguns rumores espalhados nas redes sociais, e também nos media mainstream, de que o Presidente Vladimir Putin e Donald Trump estejam a preparar um encontro para logo depois de 20 de Janeiro.
As palavras do porta-voz do Kremlin, Dmitri Pedskov, a negar a existência dessa programação de um encontro, surgem depois de Trump ter afirmado, citado pela norte-americana CNBC, que esse encontro pode mesmo ter lugar no futuro breve.
"O Presidente Putin disse que se quer encontrar comigo o mais depressa possível. Vaos esperar que assim aconteça, porque esta guerra tem de acabar", afirmou Trump na declaração repetida pelo canal norte-americano.
Porém, apesar de Peskov ter dito que não há preparativos a decorrer para esse encontro, a verdade é que tanto Trump como Putin já repetiram publicamente a vontade de conversarem sobre a questão da guerra na Ucrânia, o que, assim sendo, nada poderá obtar a que esse encontro ocorra, excepto os esforços em curso para encher esse caminho de pedras por parte da actual ainda Administração de Joe Biden e do Presidente ucraniano.
Se Volodymyr Zelensky procura dinamitar a aproximação de Washington a Moscovo com a chegada de Trump à Casa Branca através de reiterados ataques na profundidade do território da Federação Russa com misseis norte-americanos, que o Kremlin sabe que só podem ser disparados com o apoio técnico de militares dos EUA, Biden tenta "matar" essa aproximação através do envio de novos e fartos carregamentos de armas e dinheiro para Kiev.
Neste momento, como destacam alguns analistas, é altamente provável que Trump fale directamente com Putin e com Zelensky, como plano para acabar com o conflito no leste europeu, mas não é certo que isso venha a suceder no decurso imediato a esses encontros.
Isto, porque, além de Kiev ter agora em stock toneladas de material militar enviado de urgência, nas últimas semanas, pelos norte-americanos, de forma a poder manter os combates mesmo após 20 de Janeiro, também os aliados europeus, especialmente França, Reino Unido e Polónia, afirmam que não vão deixar de apoiar Kiev até ao limite das suas possibilidades...
O problema do apoio europeu é que as possibilidades estão no limite, mesmo das suas maiores potências, como a França, Reino Unido, Polónia, Alemanha ou Itália, o que deixa a Ucrânia claramente dependente do juízo que Donald Trump fizer...
Isto, porque, até ao momento, Zelensky mantém a intransigência no que toca à recusa de cedências de quaisquer territórios da Ucrânia a Moscovo, incluindo a Crimeia, e os russos não arredam pé da exigência de verem reconhecidas por Kiev as anexações das cinco regiões - Crimeia em 2"14, e Kherson, Zaporizhia, Donetsk e Lugansk, em 2022 - para admitirem começar a falar de paz.
Se Trump não tiver um truque na manga para resolver esta embrulhada, dificilmente a sua convicção de que consegue acabar com a guerra em tempo recorde, não terá qualquer materialização no terreno.