Declarada a 01 de Agosto no leste da RDC, nas províncias do Kivu Norte e Ituri, esta epidemia de Ébola, febre hemorrágica de grande taxa de letalidade, desde logo se mostrou bastante mais difícil de controlar que as outras nove que já surgiram no país desde que o vírus foi descoberto em humanos, em 1979.

Isto, porque alastra numa zona de guerra, onde diversas guerrilhas, incluindo estrangeiras com origem no Uganda (ADF) e no Ruanda (FDLR), milícias locais (M 23 - Mai Mai) e as Forças Armadas da RDC (FARDC), com apoio das forças da ONU (MONUSCO), estão em permanentes combates desde a década de 1990, constituindo este cenário risco sério para as equipas sanitárias deslocadas para a região pelo Governo de Kinshasa e pelas agências da ONU, entre estas a OMS, o UNICEF e o Alto-Comissariado para os Refugiados.

Face à existência de centenas de milhares de refugiados dos países vizinhos, como o Uganda e o Ruanda, e deslocados internos devido aos permanentes ataques às aldeias e localidades, as dificuldades em controlar a propagação do vírus desta letal febre hemorrágica são evidentes e disso mesmo tem dado conta a OMS.

O agravamento da epidemia nas últimas semanas, somando-se já mais de 100 mortos desse 01 de Agosto entre cerca de 210 casos de contágio confirmados e outras dezenas de suspeitos, deveu-se em grande parte a uma vaga de ataques de milícias e das guerrilhas, pondo em perigo a vida dos elementos das equipas sanitárias, quer se viram obrigados a procurar segurança fora da zona de risco onde procuram conter a doença.

Face a este cenário, o director-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, convocou uma reunião de urgência onde se deverá definir um novo conjunto de recomendações e redefinir a estratégia para combater a epidemia no leste da RDC.

Em cima da mesa, segundo a OMS, está como ponto central decidir se a situação exige um alerta internacional, pressupondo um risco claro de contágio dos países vizinhos, com o Uganda, o Ruanda, Burundi e Tanzânia, na primeira linha de risco, mas também os restantes países fronteiriços, entre estes Angola e o Congo-Brazzaville.

Como pano de fundo para esta súbita necessidade de redesenhar a estratégia está a notícia, divulgada pelo ministro da Saúde congolês, de que só entre 08 e 14 deste mês foram infectadas 33 pessoas e morreram 24, num total desde o início desta que é a 10ª epidemia no país que já vai em 211 infectados e 138 mortos.

Neste período foram igualmente detectados casos na fronteira com o Uganda e na cidade de Beni, capital do Kivu Norte, onde vivem mais de um milhão de pessoas.

Esta região apresenta ainda uma grande quantidade de deslocados e refugiados bem como dezenas de milhares que ali se deslocam diariamente para trocas comercias, inclusive de países vizinhos, nomeadamente nas localidades de Butembo e Mabalako.

Para além dos conflitos protagonizados pelas guerrilhas e milícias, as equipas médicas nacionais e internacionais debatem-se com um inimigo ainda mais sério, que é o obscurantismo, os rituais tradicionais, que obrigam ao toque nos corpos dos falecidos, e o receio entre as comunidades afectadas de que as vacinas estão a propagar a doença, por indicação de curandeiros e feiticeiros locais.

Um dos piores receios da OMS é que se repita nesta região o que sucedeu entre 2013 e 2014 na África Ocidental, onde uma epidemia desta doença matou mais de 11 mil pessoas, especialmente na LIbéria, Serra Leoa e Conacri, e deixou milhares de afectados, garndo consequências económicas que ainda hoje esmagam estes países.