Macky Sall anunciou esta medida num contexto em que já foi obrigado a desistir de se manter no poder por quase mais um ano além do limite do mandato, o segundo e último permitido pela Constituição do Senegal, que termina a 02 de Abril.

Depois de em 2021 e 2022 ter tentado forçar uma alteração constitucional que lhe permitisse candidatar-se a um 3º mandato, da qual desistiu devido aos protestos generalizados nas ruas de Dacar, Ziguinchor ou Saint Louis, Sall queria estender o seu mandato até 15 de Dezembro.

Para isso, alterou a data das eleições, que estavam previstas para 25 de Fevereiro, para 15 de Dezembro, o que lhe daria mais cerca de nove meses na Casa Branca, como em Dacar é conhecida a sua residência oficial... mas também essa artimanha ilegal lhe saiu pela culatra.

Assim que anunciou esse truque, logo os protestos voltaram às ruas, a oposição ergueu-se em uníssono e a sociedade civil senegalesa mostrou o porquê de ser a mais bem preparada de todo a África Ocidental e sem comparação na maioria dos países do continente.

Mas também porque a França, a antiga potência colonial, temia perder a jóia da coroa da "FranceAfrique", depois de Mali, Burquina Faso, Níger e Guiné-Conacri terem sofrido golpes militares que levaram ao corte de relações com Paris.

Para que tal não sucedesse, Paris organizou uma frente internacional envolvendo os Estados Unidos e a União Europeia contra os movimentos de Macky Sall, que foi mesmo ameaçado de sanções pessoais se fosse em frente com o seu "golpe".

Obrigado a retroceder com grande estrondo, Sall optou por reconquistar a simpatia popular e diluir as consequências internacionais anunciado, há cerca de uma semana, que abandonaria o poder no limite legal, a 02 de Abril.

E agora, em mais um golpe de teatro anuncia que proporá esta quarta-feira, tanto no Conselho de Ministros como no Parlamento uma Lei de Amnistia Geral para que foi detido quando protestava nas ruas contra a sua intenção de contornar os limites da Constituição.

O Chefe de Estado senegalês aludiu a um "espírito de reconciliação nacional", para avançar com uma amnistia geral envolvendo as detenções no contexto das manifestações políticas ocorridas entre 2021 e 2024.

Sall quer acabar com a enorme crise política criada pela sua ambição de se manter no poder ilegalmente e agravada com o mais recente adiamento das eleições presidenciais inicialmente previstas para este Domingo mas atiradas para Dezembro.

Neste discurso, soube-se que Macky Sall pretende tirar o Senegal da encruzilhada política e social em que se encontra há cerca de três anos, mas ficou por perceber, como a oposição e a sociedade civil exigem, como vai resolver o problema que criou com a recalendarização das eleições.

Embora tenha usado a mesma tribuna do que localmente é denominado "diálogo nacional" uma espécie de conselho nacional para desbravar soluções para problemas internos, a decorrer no Centro Internacional de Conferências Abdou Diouf, em Diamniadio, localidade a cerca de 35 quilómetros da capital, Sall admitiu ser necessário encontrar uma outra data "consensual".

Essa nova data, apontou, é essencial para tirar o Senegal da condição de país em risco de entrar para a longa lista de Estados africanos com problemas de violência pós-eleitoral, e, para mais, numa sub-região assolada por sucessivos golpes militares. (ver links em baixo nesta página).

Sall disse nesta intervenção que o seu desejo avançar para eleições pacíficas, inclusivas e transparentes e que apenas o move o objectivo de chegar a um consenso para uma nova data das eleições presidenciais, reafirmando que vai deixar o poder a 02 de Abril.

Esta reunião do Diálogo Nacional foi apenas presenciada por dois dos candidatos às eleições deste ano, mostrando que há um problema de fundo por resolver e que é conhecido por ter potencial de despoletar novas vagas de violência, que foi o afastamento na secretaria de dois candidatos fortes.

A solução que vier a ser encontrada para, por exemplo, resolver a questão da desqualificação na secretaria de Karim Wade, filho do antigo Presidente Abdoulaye Wade, e Ousmane Sonko, pode definir o quão pacificas estas eleições vão ser.

Entre os 20 candidatos aprovados estão os nomes do candidato escolhido por Sall e seu primeiro-ministro, Amadou Ba, e ainda Idrissa Seck e Mahammed Boun Abdallah Dionne, que são antigos governante e lider da oposição, mas também o ex-presidente do município de Dacar, Khalifa Sall e Bassirou Diomaye Diakhar Faye, que substitui Ousmane Sonko.