Segundo esta hipótese, as assimetrias regionais existem no país porque os cidadãos dos municípios menos desenvolvidos e os seus governantes não possuem as possibilidades e as competências necessárias para torná-los mais prósperos. É uma ideia defendida por não poucos membros da sociedade civil, actores políticos, líderes religiosos e governantes inspirados pela célebre teoria segundo a qual a nível dos municípios os cidadãos e os seus governantes são incapazes de autonomamente identificarem os problemas, definirem possíveis formas de solução e implementarem acções necessárias para os resolverem.

Ficamos, assim, a um passo da conclusão de que, a nível local, as pessoas não são capazes de fazer um bom uso de meios e dos escassos recursos aí existentes para resolver os seus problemas sem que haja interferência do nível central ou de algum agente externo.

Com efeito, o mais evidente resultado desta teoria é a forma como as instituições centrais dão apoio ou supervisão às instituições locais, feito por estabelecimentos que, desde o nível central, determinam as prioridades e a maneira como os recursos destinados aos municípios devem ser alocados. As instituições locais não passam de um ente com funções meramente executivas, na qual os seus actores não têm liberdade sequer para decidir acerca de questões básicas, tais como: que acções priorizar, a quem comprar bens ou serviços, ou mesmo que inovações introduzir sem permissão de alguém comodamente instalado nos níveis de poder mais acima (provincial ou nacional).
Esta maneira de pensar constitui, a meu ver, uma das bases para a perpetuação das desigualdades no país, uma vez que, quanto mais elas seguirem sem solução mais pobre o município, provavelmente, será. A hipótese da incapacidade local sustenta que os municípios pobres devem sua pobreza ao excesso de falhas dos seus cidadãos e ao facto de que, no entanto, as suas lideranças e autoridades ignoram como livrar-se delas, tendo o seu actual estágio de desenvolvimento sido resultado de erros ou omissões cometidos pelas suas gentes no passado. Como se os municípios com maior nível de desenvolvimento o são porque os seus cidadãos e a elite que os governa tivessem sempre sabido conceber melhores políticas e, por outro lado, conseguido eliminar as falhas que hoje se apontam aos municípios mais desfavorecidos.

Seria a hipótese da incapacidade local a mais adequada para explicar as assimetrias existentes entre municípios? Será possível que os municípios com menor nível de desenvolvimento enfrentam os problemas que enfrentam porque seus líderes tendem a partir das mesmas premissas equivocadas acerca de como desenvolver as suas localidades, levando ao quadro de pobreza, ao passo que os líderes dos municípios do litoral ou algumas capitais de província são mais bem informados ou orientados, o que explicaria seu maior nível de desenvolvimento?

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