Com pelo menos 30 milhões de habitantes, Angola não tem 300 mil praticantes de desporto federado (equivalente a 1% da população). Isto, juntando todos os desportistas de todas as modalidades praticadas no País e de todos os escalões. Arrisco dizer que, mesmo acrescentando nesse grupo os praticantes do desporto corporativo, que quase já não existe, dificilmente chegaríamos a 1% da população a praticar desporto.

Este quadro é contristador e sinal de que a saúde dos angolanos anda muito mal. Afinal, desporto também é saúde, e a sua prática previne uma série de doenças, proporcionando uma vida mais longeva. Esta era, aliás, uma das frases mais pronunciadas da propaganda governamental em tempos longínquos, mais ou menos na primeira década e meia de independência nacional. Lembro-me de que, no início de 1976, em plena febre da massificação do desporto, havia um programa da Direcção-Geral dos Desportos designado Saúde, Produção e Desporto, o qual estava direccionado para crianças e adolescentes de bairros que nunca haviam tomado contacto com as modalidades da elite dominante, as de salão. O SPD, como também lhe chamavam, parturiu muitos campeões de modalidades outrora desconhecidas pela gente humilde dos musseques, onde só se jogava ao futebol com bola de trapo!

Face ao exíguo número de praticantes de desporto, Angola não pode ser considerado um país desportivo. É provavelmente devido a isso que abundam as doenças associadas ao sedentarismo e à falta de actividade física. Angola é, pois, um país doente. E assim é porque as autoridades relutam em olhar o desporto com olhos de ver. Infelizmente, ainda é encarado apenas como entretenimento, como uma actividade lúdica de somenos. E isso não deixa de ser estranho porque, quando um atleta ou uma Selecção Nacional ganha uma prova internacional, os políticos são os primeiros a acotovelarem-se no aeroporto para os patéticos salamaleques que se tornaram marca do Regime.

A tendência é que haja cada vez menos praticantes de desporto. Uma das razões tem que ver com a escabrosidade da vida imposta por décadas de (des)governação cleptocrática à esmagadora maioria dos angolanos. Isto não lhes deixa sequer tempo para pensar em que quer que seja. Afinal, sobrevivendo abaixo do nível de pobreza, com menos de um dólar por dia, mais de 12 milhões de angolanos (41% da população) têm preocupações bem mais terrenas. Lutam diariamente para alimentar o estômago. E esse número, resultante de um estudo concluído em 2019 pelo Instituto Nacional de Estatística, pode ser bem maior, uma vez que as cifras apresentadas pelas autoridades são, em regra, pouco fiáveis, segundo vários organismos internacionais, entre os quais o insuspeito Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

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