Porque passados 50 anos a maioria dos angolanos é jovem e não vivenciou a Revolução é muito útil escrever sobre ela, por óbvias razões afectivas e de interesse dos povos de língua portuguesa.

É tanto mais útil quanto é certo que a Revolução teve como principal motivação do Movimento das Forças Armadas (MFA) o termo das guerras coloniais em África.

O MFA, integrado por capitães do quadro permanente, saiu vitorioso da iniciativa a que meteu ombros, derrubando o regime ditatorial sem que tivessem de disparar um único tiro.

Ato contínuo à revolução, assistiu-se ao júbilo dos cidadãos nas ruas, nos mais recônditos lugares.

De forma espontânea foram colocados cravos no cano das espingardas, passando a revolução a ser mundialmente conhecida também como a "Revolução dos cravos".

Mercê da luta travada em prol da independência pelos povos colonizados que, aliás, correu paredes meias com a luta do povo português em prol da reconquista da liberdade, era inevitável que ambas fossem alcançadas, como o foram.

Portugal foi parte dos acordos que outorgou com os movimentos e partidos independentistas no reconhecimento da independência dos territórios colonizados, incluindo da Guiné-Bissau, unilateralmente declarada pelo PAIGC, em 1973.

A reconquista da liberdade viria a ser consagrada na Constituição de 1976 e, com ela, a liberdade de associação, incluindo a constituição de partidos políticos, negada pelo regime anterior.

O quadro mundial, em 1974, era bipolar, com duas potenciais hegemonias, os EUA e a ex-URSS, a confrontarem-se numa "guerra fria" na Europa, com o muro de Berlim a marcar essa divisão, enquanto em África se desenvolvia uma guerra quente por interpostos agentes.

Este quadro permite compreender a natureza dos regimes instituídos após as independências nos territórios de língua portuguesa colonizados, em África, decalcados sobre o modelo da ex-URSS, que persistiram até à implosão do regime da ex-URSS, ocorrido a partir de 9 de novembro de 1989 com a queda do muro de Berlim.

A partir desta data, países de partido único passaram a empreender transições para o pluripartidarismo, o que teve lugar também com os países de língua portuguesa.

Para além da natureza dos regimes de todos os países de língua portuguesa, a relação existente entre todos eles constituiu sempre uma prioridade, por compreensíveis razões da História, de afectos e de interesses próprios e comuns, conduzindo à criação da CPLP.

Todos estes factos justificam que, na passagem do 50º aniversário da revolução, fossem convidados a assistirem em Portugal, numa cerimónia evocativa, os mais altos representantes dos nossos países, desde logo, o Presidente João Lourenço.

Honra-me, como secretário-geral da UCCLA, ter promovido incontáveis iniciativas para o aprofundamento das relações entre os povos de língua portuguesa.

Quando tomei posse, levei a efeito uma grande homenagem aos associados da Casa dos Estudantes do Império, instituição criada em 1943, extinta pela PIDE em 1965, porque a maioria dos seus associados passou a levar a efeito programas que punham em causa a ditadura.

Na Casa dos Estudantes do Império iniciaram a sua formação política, então jovens universitários das ex-colónias, que acabaram, parte deles, como dirigentes dos partidos e movimentos de libertação e, mais tarde, responsáveis máximos pelos respectivos Estados, como Agostinho Neto, Amílcar Cabral, França Van-Dúnem, Joaquim Chissano, Manuel Pinto da Costa, Miguel Trovoada, não esquecendo personalidades da cultura como Alda Lara, Francisco Tenreiro, Manuel Rui, Pepetela, Óscar Monteiro, a título de mero exemplo, entre centenas e centenas de personalidades de referência.

Presentemente decorre na UCCLA, até ao dia 10 de maio, uma exposição de artistas plásticos de todos os nossos países, integrada nas Comemorações do Cinquentenário da Revolução, denominada "Liberdade - Portugal, local de encontros".

Este título serve também o presente artigo, pelo seu conteúdo ser adequado ao que antecede.n *(Secretário-geral da UCCLA)