Não tem tido um desenvolvimento espectacular, mas tem resistido. Eu pensava que ele me iria alegrar os dias, com o seu ar viçoso e alegre, e não é isso que tem acontecido. Mas alegra-me na mesma, pois mostra resiliência. Apesar de farto em luz, talvez o escritório não represente as condições ideais para ele. Falta-lhe o Sol directamente sobre a folhagem, e o aconchego do vento dos fins de tarde, com a carícia salgada do sul. Rego-o todos os dias, e mergulho, de quando em vez, as mãos na terra para lhe demonstrar o meu carinho. Ele não me salta para o colo, mas resiste. E o sorriso com que me presenteia não é de resignação. É determinado. Quer continuar comigo. E quer que eu continue a lutar, mesmo quando lhe transmito algum desespero por não conseguir encontrar os caminhos com a facilidade que pretendia. As folhas continuam pequeninas, e não tão viçosas como esperava, mas caem e reproduzem-se, nunca me deixando verdadeiramente no inverno. É mais um cacimbo permanente, ensolarado.

O meu arbusto vai-me dando lições. Não se deixa abater, mesmo quando mostra um ar mais carregado, o que acontece normalmente depois do fim-de-semana, particularmente se o mesmo for muito quente, e prolongado. Após a rega da manhã de segunda, espevita. E agradece-me com o olhar. Analiso as folhas que entretanto caíram, e vejo com espanto que nem sempre são as mais velhas que caem primeiro. Há velhos que se agarram à vida, enquanto jovens se deixam ir sem rumo, empurrados por ventos que não se esforçam por controlar. Volta e meia, abano-o, a simular um vendaval, e vejo algumas das folhinhas já encurvadas agarrarem-se aos ramos, enquanto outras, imberbes, ainda sem o verde bem definido, se abandonam, num voo lânguido sem retorno. Misturo-as na terra, e reinicio o ciclo.

O meu arbusto ali está, de tronco firme, ainda que meio despido. Não se inclina, como se arriscasse tudo numa busca desesperada pelo Sol. Mantém-se firme, cheio de dignidade, como um velho funcionário, rígido e direito no seu casaco puído, mas impecavelmente escovado. Observa e tira lições do que vê. Reflecte e toma partido. Aprova o ar enérgico dos que me visitam, se a energia está em consonância com uma verdadeira vontade de resolver os problemas que nos afligem. Recebe com um quase imperceptível franzir de sobrancelhas, os que vêm procurar tingir de cores menos favoráveis os colegas de trabalho. Preocupa-se quando vê a desculpa, e não a determinação, na voz dos que não se esforçam suficientemente para encontrar uma solução.

Tento ser como o meu arbusto. Não soçobrando nos momentos mais difíceis, e aproveitando as oportunidades para resistir, mesmo não mudando o casaco.

Com dignidade.