Quando abrimos o dicionário de língua portuguesa e lemos os significados de servilismo e servil, os que mais se destacam, respectivamente, pelo peso da sua representação pejorativa, são: "sujeição degradante" e "ignóbil, baixo e subserviente" e imediatamente surgem no nosso consciente alguns rostos públicos em homenagem a esta classificação. Mas não são os únicos. No back office, há um "batalhão S" desconhecido e hierarquizado que faz a gestão minuciosa de todos os potenciais pomos de discórdia. É um mecanismo soviético antigo e que pensávamos que tinha sido desmantelado. Esta "câmara baixa" da manipulação molda os actos mais vulgares da criatividade, do raciocínio e do juízo ético, com o objectivo de agradar o seu superior.

Temos sido testemunhas do PODER como multiplicador desta espécie rastejante, que é brilhante na adopção da incivilidade e do desrespeito, e isto só se torna possível pela quantidade de pessoas que estão disponíveis para carregar qualquer pasta por mais questionável que seja o seu conteúdo. Vivem na sala de espera de qualquer fezada e tornaram-se indigestos para o eleitor contribuinte consciente e para a bandeira de "mudar o que está mal", tão eloquentemente defendida pelo Presidente da República nas eleições 2017, que tem sido repetida sistematicamente e que foi mais longe quando declarou guerra ao bajulismo, servilismo, "puxa saquismo", "achismo" e outros ismos de inferior categoria.

Este fenómeno devia merecer um competente estudo sociológico e psicológico, para aferir uma cura capaz de devolver estas pessoas a um patamar de dignidade e, sobretudo, de utilidade positiva, porque somos poucos e o País é grande. Esta seria, igualmente, uma ajuda inestimável para se combater o que está mal a nível institucional, pois este tipo de pessoas desprestigia a administração pública, a comunicação social, a magistratura, as artes, a academia, a literatura, a sociedade civil e os partidos políticos.

Um dos princípios do Darwinismo assenta na selecção, defendendo: "aqueles que melhor se adaptam ao respectivo meio ambiente sobrevivem e multiplicam-se". Com o servilismo, acontece o mesmo, mas pela negativa. Temos consciência de que o declínio político ocorre quando os sistemas políticos não se conseguem adaptar à transformação das circunstâncias. Sempre que isto acontece e a perspectiva de perda de poder surge como uma evidência, o servilismo ganha novos adeptos, aumentando significativamente o grau de intoxicação pública e de mediocridade em todos os sentidos.

O servil é pau para toda a colher, veste qualquer fato e defende qualquer irracionalidade. Nada do que diz vem da sua lavra. Fala sempre por encomenda com base numa cartilha desactualizada e com uma linguagem conhecida e gasta pelo excesso de utilização. É incapaz de processar o ridículo e um argumento válido em qualquer discussão. No nosso País, temos verdadeiras pérolas do servilismo em qualidade e quantidade suficientes para servir de acervo a um futuro museu.

Mas, a grande verdade que aqui merece ser analisada é que o servilismo não constrói nada. É oco em todos os sentidos. Estas pessoas não têm inteligência emocional nem sequer amam o seu país e, por isso, quando o defendem, fazem-no de forma nauseabunda, porque foram orientados para desvirtuar a verdade. O servilismo destrói os pilares de qualquer nação, pois, quando as pessoas aplaudem ou aceitam fazer parte de qualquer acto que fira a ética, a honra, a deontologia ou a própria Lei, estão a ser cúmplices da derrota colectiva, não entendendo que não passam de marionetas com curto-prazo de validade e que normalmente a sua missão termina sem nenhuma glória. O servilismo devia ser considerado uma doença definida pela pobreza de auto-estima, pela irracionalidade do complexo de superioridade, pela falta de carácter, pela miopia do sentido do ridículo e ainda pela esquizofrenia de quem acredita que este tipo de argumentos estéreis ainda pode ser útil para tratar as falências institucionais. Devia, por isso, ser veemente repudiada por aqueles que dizem que querem construir uma Angola Nova.

Precisamos, urgentemente, de interromper a história de Angola, congelando a sua atordoada contemporaneidade, para construir uma nova narrativa capaz de corrigir a rota. As teorias da conspiração já não servem para justificar as incongruências. A Nação angolana foi defendida por homens e mulheres íntegros e sábios de quem descendemos, lá longe quando o tempo ainda era nosso. Ao longo desta História, perdemos a nação, muitos perderam a vida. Por causa da luta "destes muitos", conquistámos sólidas vitórias. Hoje somos um país. Mas não vamos a lado nenhum se decidirmos manter velhos hábitos que se mostraram desastrosos no passado e rebaixaram o orgulho nacional afundando o País. Temos de ser capazes de construir exemplos justos, éticos, invioláveis, coerentes, isentos que sejam fortes e dignos para deixar como herança para os nossos netos. De outra forma, perderemos os guardiães da nossa identidade colectiva, o abnegado patriotismo e o sentimento de pertença. De outra forma, perderemos ANGOLA.