O presidente do Sindicato Nacional dos Professores (SINPROF), Guilherme Silva, revelou hoje, quarta-feira, em conferência de imprensa, que das 299 escolas do II ciclo do ensino secundário visitadas por aquela organização sindical, em todo o País apenas 22,4% conseguiram criar as condições mínimas para o retorno às aulas, por serem, segundo aquele responsável, instituições financiadas pelo Estado.

Os números do SINPROF indicam que 50,1% das escolas do ensino secundário se encontram num estado razoável em termos de condições de biossegurança, enquanto 27,5% não dispõem de quaisquer meios de combate à pandemia, por não serem orçamentadas e por não terem recebido nenhum valor para o efeito.

"Volvidos mais de seis meses, desde a interrupção das aulas no pretérito mês de Março, por força da pandemia, o Executivo não foi capaz de criar as condições necessárias na maioria das escolas do País, adoptando-as ao contexto que se vive, para que o tão propalado retorno às aulas fosse feito de forma sustentada e em segurança", disse Guilherme Silva.

O sindicalista referiu, igualmente, que, a nível do I ciclo do ensino secundário, o SINPROF visitou 345 escolas pelo País, tendo verificado que apenas 4,9% das quais possuem condições mínimas para o retorno às aulas, 31,5% possuem condições razoáveis, enquanto 63,5% não têm qualquer condição.

À imprensa, Guilherme Silva considerou que algumas escolas no País, sobretudo as do ensino primário e do I ciclo do ensino secundário, estão voltadas ao abandono. Referiu, também, que grande parte das escolas do País não tem água corrente, ainda não recebeu materiais de biossegurança como sabão, álcool em gel e não possui pessoal preparado para proceder à higienização e à desinfecção das salas de aulas, antes, nos intervalos, entre os dois períodos lectivos definidos em cada turno, e depois das escolas.

O responsável citou, por exemplo, o caso de uma escola primária na localidade de Mbemba Ngango, província do Uíge, com 25 salas de aulas e quatro mil alunos, que recebeu da administração municipal um tambor adaptado para a desinfecção de mãos, quatro barras de sabão, dois pacotes de detergente em pó e um litro de lixívia.

"Não se lhes atribuiu quaisquer condições para o efeito. A nível do ensino primário, as coisas são mais críticas, pois, das 602 escolas visitadas, apenas 3% deste número criaram condições para o retorno às aulas, 21% possuem condições razoáveis, enquanto 76% dispõem de quaisquer condições no contexto actual, por falta de verbas", continua.

Após apontar as irregularidades no processo de preparação das escolas para o retorno às aulas, o líder do SINPROF queixou-se, também, da baixa capacidade de testagem no seio dos docentes e sublinhou que os professores não serão partícipes "de acções de desrespeito à vida e à dignidade dos vários intervenientes do contexto escolar".

"Não se está a exigir o ideal, porque, mesmo em circunstâncias normais, o razoável nunca existiu nas nossas escolas. Estamos a falar do mínimo aceitável em tempos de pandemia. Apelamos ao Executivo do Presidente João Lourenço para se preparar melhor, engajando mais recursos à Educação, de forma que as escolas possam criar as condições mínimas, ainda inexistentes na maioria delas, se quisermos garantir um recomeço seguro e com sustentabilidade, que não resulte de uma mera decisão política", concluiu.