No início da acareação, Francisco Massota, considerado pela acusação como "o autor principal" do esquema fraudulento, beneficiando do cargo que exercia e "usando de abuso de poder", negou todas as acusações e revelou como o seu nome foi associado à burla.

"Eu estava no meu gabinete na Escola Nacional de Polícia de Protecção e Intervenção. A Elizandra bateu à porta do gabinete, disse, "tio, tenho processo e dinheiro de algumas pessoas que querem entrar na Polícia Nacional". Recebi e entreguei os processos e os valores ao falecido subcomissário Manuel Cassamunina. Elizandra sabe que é verdade".

Neste ponto, Elizandra Tomás retorquiu: "É mentira. O comissário Massota é um falso e mente descaradamente. A iniciativa de recrutar elementos para serem enquadrados na Polícia Nacional foi do próprio comissário, eu sou uma agente, só tinha de obedecer às ordens superiores".

Ao que o comissário respondeu: "Os factos revelados pela Elizandra não correspondem com a verdade, porque eu não tenho competência para enquadrar ninguém na Polícia Nacional". Elizandra Tomás voltou a ripostar, dirigindo-se ao juiz: "Meritíssimo, reitero o que disse, o comissário Massota é um mentiroso, todo o dinheiro que recebi das mãos das 100 pessoas, entreguei diretamente ao senhor Massota".

E continuou: "Ele é ganancioso, sempre que ficava sem dinheiro ligava e dizia "Elizandra já não tem ninguém que está interessado em entrar na polícia?" Eu respondia "tio, vou fazer os contactos depois digo alguma coisa". Tão logo conseguia os valores e os processos, o Massota vinha ao meu encontro para receber os valores", contou a ré.

Já Márcia Crispim, agente da Polícia Nacional e igualmente ré, disse ao Ministério Público (MP) que se encontrou com Francisco Massota numa loja no bairro do Palanca.

"O comissário Massota recebeu valores das minhas mãos quando nos encontrámos na loja da PEP no bairro do Palanca, junto às bombas de combustível da Sonangol. Massota frequentou por muito tempo a minha casa, está a ser muito infeliz em mentir em tribunal, esta situação está neste ponto porque o senhor teve muita ambição e prejudicou os outros", apontou, acrescentando que hoje está sentada no banco dos réus por culpa do comissário.

A resposta do comissário não se fez esperar: "Miúda nunca recebi nenhum dinheiro das tuas mãos, vocês estão a ser falsas comigo. Sou inocente nesta história toda, meritíssimo. Repito, os envelopes com o dinheiro e os processos, entreguei-os ao meu falecido compadre, subcomissário Manuel Cassamunina", concluiu.

O julgamento continua hoje com a segunda fase de acareação, com outros três réus, acusados de conduta indecorosa pelo STM.

Os crimes ocorreram em Setembro do ano passado e o julgamento está a decorrer nas instalações do Instituto Superior de Ciências Policiais e Criminais "Osvaldo Serra Van-Dúnem".