A informação foi transmitida ao Governo angolano durante uma reunião entre a embaixadora norte-americana e o ministro das Relações Exteriores em Luanda.

A verba disponibilizada pelos EUA, que é parte da ajuda de cerca de 65 milhões de dólares que o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) tinha avançado há alguns meses como sendo o mínimo necessário para garantir as condições mínimas de acolhimento aos milhares de refugiados que deixaram as suas casas para fugirem à violência protagonizada pelas milícias do Kamwuina Nsapu (chefe tradicional) que há cerca de um ano se rebelou contra o Estado congolês.

Os 13,9 milhões USD, segundo Helen La Lime, vão ser entregues ao ACNUR, uma das agências da ONU que, em conjunto com as autoridades angolanas, criaram o grupo de trabalho que lida com o fluxo de refugiados para os dois campos improvisados na Lunda Norte, Cacanda e Mussungue, que em breve serão substituídos por um outro, este com melhores infra-estruturas, no município do Lóvua, a cerca de 90 km"s do Dundo.

O pedido internacional feito pelo ACNUR e pelas outras agências das Nações Unidas, a partir de Genebra, em Junho, tinha como pressuposto a quase total ausência de condições de acolhimento dos milhares de refugiados que diariamente atravessavam a fronteira em busca de segurança, deixando para trás a violência das milícias, que fez mais de 500 mortos e 1,3 milhões de deslocados nos Kasai e Kasai Central no espaço temporal de um ano.

No entanto, em coerência com a melhoria da situação nos Kasai congoleses, o fluxo de refugiados na Lunda Norte tem diminuído a ponto de o governo provincial já ter admitido que os campos de Cacanda e Mussungue deixaram de receber pessoas vai para quase dois meses.

Sublinhando que esta é a resposta dos EUA ao pedido de ajuda urgente da ONU, La Lime acrescentou que Washington está disponível para apoiar Angola no esforço exigido pelos milhares que ainda se encontram nos campos de acolhimento e que, nos próximos meses, poderão regressar às suas casas, do outro lado da fronteira..

"Os Estados Unidos da América vão continuar ao lado de Angola para enfrentar a situação dos refugiados da RDC", disse a diplomata norte-americana, que, ao mesmo tempo, recordou a posição do seu país sobre a crise política que a RDC atravessa, reafirmando o pedido de realização de eleições, que já deviam ter ocorrido em Dezembro do ano passado.

"É importante que as eleições tenham lugar o mais rápido possível", enfatizou Helen La Lime.

As eleições gerais na RDC foram adiadas porque, sendo essa a justificação oficial, a Comissão Eleitoral Nacional Independente (CENI) não conseguiu realizar o registo eleitoral, embora a oposição e algumas figuras da sociedade congolesa, como é o caso do empresário com interesses em Angola, Sindika Dokolo, tenham lançado suspeitas públicas de que por detrás do atraso no registo eleitoral e o despoletar da violência nos Kasai esteja a mão do poder em Kinshasa para perpetuar o Presidente Joseph Kabila no poder porque está constitucionalmente impedido de se recandidatar a um 3º mandato.

Actualmente, a CENI já tem 35 milhões de eleitores registados em todo o país, tendo apelado à pacificação plena nos Kasai e Kasai Central, onde não chegou ainda a CENI por forma a que, também nestas províncias, se possa realizar o registo eleitoral, o que deverá começar a ser feito muito em breve, graças à relativa estabilidade que estas regiões vivem por estes dias.

Entretanto, apesar dos vários apelos da comunidade internacional, como repetiu agora a embaixadora norte-americana em Angola, para que as eleições ocorram ainda em 2017, conforme está plasmado no acordo assinado entre os homens de Kabila e a oposição, a 31 de Dezembro de 2016, o Governo já admitiu que o escrutínio muito dificilmente terá lugar este ano.

Joseph Kabila já está no poder há sete meses mais que o seu mandato permitiria em circunstâncias normais e a violência nos Kasai tem servido para preparar o terreno para prolongar esta situação, sob risco, como a oposição ameaçou, do regresso da violência às ruas de Kinshasa, que, no segundo semestre do ano passado fez mais de 100 mortos em manifestações para exigir a realização das eleições.