Em declarações aos jornalistas depois da presença em tribunal, José Van-Dúnem considerou que se tratou de "uma boa oportunidade" para o juiz "perguntar claramente se tinha havido uma facilitação" da sua parte, enquanto ministro da Saúde, para "a saída de valores" do Fundo Global, que deveriam ter sido aplicados no Programa Nacional de Controlo da Malária.

"O tribunal chamou-me a declarar por eu ter assinado umas das ordens de pagamento [mencionadas no processo]", explicou o ex-governante, acrescentando que a sua participação deve-se apenas ao esforço de "ajudar a esclarecer e a clarificar o caso".

Segundo José Van-Dúnem, em linha com a sua versão dos factos, os arguidos negaram que tenha beneficiado das ordens de saque e das ordens de pagamento alegadamente fraudulentas realizadas durante a sua tutela.

"Quando falta medicamento nos hospitais não quer dizer que o ministro roubou. O ministro gere a unidade orçamental do Ministério da Saúde", exemplificou, lembrando que os hospitais gozam de autonomia financeira.

O ex-governante indicou mesmo que o desvio das verbas o apanhou "de surpresa".

"Uma das ordens de saque era de cento e oito milhões de Kwanzas, para o programa da malária. O desaparecimento de outros duzentos milhões de Kwanzas como podem imaginar afectou a unidade do Ministério da Saúde", apontou José Van-Dúnem, recordando a "ginástica" orçamental aplicada.

"Tivemos que condicionar outras áreas, e estabelecer prioridades para que os beneficiários não ficassem sem o suporte do Fundo Global do combate à malária e das outras duas endemias que o mesmo apoiar, que são o VIH e a Tuberculose".

O ex-governante sublinhou ainda que, depois de descobrir o "buraco", o Fundo Global condicionou a continuação dos apoios à restituição dos fundos que tinham sido desviados.

Ministro revelou que tinha muita confiança na principal arguida

Referindo-se a uma das principais arguidas, Sónia Neves, que exercia a função de Directora Administrativa e Financeira da Unidade Técnica de Gestão do Fundo Global e está acusada de ser a principal mandatária do esquema, o antigo ministro reafirma a perplexidade.

"A Sónia é uma grande profissional e tem um enorme currículo. Tinha muita confiança nela", admitiu José Van-Dúnem recuando à época do desvio.

"Na altura, a coordenadora da unidade de gestão estava doente em tratamento na África do Sul, isso criou o ambiente mais favorável para que isto pudesse acontecer", notou.

O ex-ministro explicou que a unidade técnica de gestão utilizava "software" Primavera, que tinha a vantagem de não permitir apagar o rastro das operações.

"Os funcionários acusados do crime de desvio de verbas danificaram esse "software" primavera, e passaram a fazer os trabalhos em Excel. As contas dão certo, mas não permitem ver aquilo que foi apagado", comparou.