No dia em que se assinala um mês sobre a tragédia que ocorreu no destacamento militar de Monte Tchota, interior da ilha de Santiago, a agência Lusa falou com os pais de dois dos militares mortos que se mostraram agastados pela falta de informação do processo, que está a ser conduzido pelas Forças Armadas cabo-verdianas.

Francisco Lopes Ribeiro, mais conhecido por "Bebé", pai de José Maria Correia Ribeiro, 26 anos, uma das oito vítimas militares, disse que o último mês tem sido de grande sofrimento para a família que até agora não teve qualquer informação sobre o que terá acontecido.

Indicou apenas que recebeu uma carta de condolências do presidente da República, Jorge Carlos Fonseca, e algumas visitas de responsáveis das Forças Armadas, que nada lhe revelaram sobre o que terá acontecido ao filho.

Francisco Lopes Ribeiro, 50 anos, recordou que também cumpriu dois anos de serviço militar no Centro de Instrução do Morro Branco, em São Vicente, mas ainda está a tentar entender como foi possível um soldado conseguir matar oito colegas - e depois três civis - sem que ninguém tivesse reagido.

A mesma opinião tem Francisco Pereira Rocha, mais conhecido por "Tchico", pai do soldado Mário Stanick Fernandes Pereira, 21 anos.

"Tchico", 44 anos, morador em São Domingos, adiantou que as Forças Armadas cabo-verdianas têm efectuado visitas à família para prestar apoio, mas sem avançar mais informações sobre o que terá acontecido.

Por isso, lamentou o secretismo do caso e disse esperar por alguma explicação das autoridades cabo-verdianas sobre a morte do filho.

"É isso que queremos: alguma explicação", reforçou. "Se isso não acontecer, sentir-me-ei obrigado a constituir advogado para ver se o processo avança", adiantou "Tchico".

Esta semana o ministro dos Negócios Estrangeiros e da Defesa, Luís Filipe Tavares, anunciou que o governo vai criar uma pensão mensal para compensar as famílias das vítimas das mortes no destacamento militar.

Na sequência da morte das 11 pessoas - oito militares e três civis, incluindo dois cidadãos espanhóis - as chefias das Forças Armadas estão demissionárias. Desentendimentos anteriores ao dia do massacre terão estado na origem do crime.