Retive, por isso, com muita atenção o novo e providencial aviso do meu amigo, porque não quero que o mercado volte a ser apanhado com as calças na mão...E quero, sobretudo, que este professor universitário da velha guarda, depois dos alertas que fez no passado, venha agora, finalmente, ser levado a sério.

Porque, ouvindo-o, talvez evitemos novos terramotos financeiros. E, desta forma, a explosão de novos produtos tóxicos no nosso sistema bancário. Até porque este é demasiado volátil e os seus cofres estão ensombrados com muitas teias de aranha.

Evaporam-se numa nebulosa que está a fazer com que alguns bancos, com cheques empoeirados, andem a afugentar clientes. Angolanos e estrangeiros. Quem vem de fora e acredita no sistema, como nós acredita(vá)mos, sente-se desacreditado! Porque vê, como nós, os escândalos entranharem-se nas suas artérias bancárias. Porque vê, como nós, depois, tudo ficar na mesma...

A partir daqui, instala-se um sentimento de desconfiança dos cidadãos em relação às instituições bancárias. O que é grave. Gravíssimo! Porque uma boa parte dos nossos funcionários bancários não é, em muitos aspectos, infelizmente, digna dos títulos que ostenta. Chega mesmo a ser descarada na pretensão de ser parte de um negócio que, sendo dos clientes e dos bancos, finge não saber que não lhe pertence!

É claro que nem toda a gente se comporta desta maneira mas, que há por lá alguns "salgadinhos" à solta, que acham que o dinheiro dos clientes é para ser repartido pela maralha do balcão, lá isso há! Toda a gente, manipuladores e manipulados, sabe disso. Mas, toda a gente, finge não saber...

Como noutras fortalezas aparentemente inexpugnáveis, por lá, em muitos casos, também não se está a conseguir proteger o trabalho, o profissionalismo, a honestidade e a transparência contra a ganância financeira dalguns gangsters. Não havendo essa protecção, assim não vamos lá...Mas, se não vamos lá nós, é preciso ter cuidado porque, eles vêm até nós, com a ameaça de novas implosões.

É claro que o meu amigo, com acesso a informação privilegiada, não abriu o jogo todo mas, pelo periclitante ritmo dos batimentos cardíacos dalguns bancos, não é difícil desconfiar o que nos espera...Na mesma medida em que, mantendo o segredo, todos desconfiam onde possa residir o segredo da desgraça dos clientes: aqui ou lá fora, está na arte de gerir os bancos...

Por isso é que, como dizia o outro, "a melhor forma de assaltar um banco é geri-lo"...E, sob essa extremosa gestão, no meio da nata das nossas finanças, que inclui economistas, advogados, juristas, professores universitários, auditores e o próprio BNA, como entidade de supervisão, tudo tem falhado!

Só se conhece o fim da boda, depois da falência! Mas, até aí, nunca ninguém sabe do paradeiro do BNA, que finge nada ter descoberto a tempo e horas.

É verdade que há sempre gente que pode perder a inocência mas, essa gente nunca ganha a culpa... É gente que nos faz perceber que, como diz o Henrique Monteiro, a melhor forma de contribuir para a falência de um banco é, afinal, não saber o que lá se passa...

E porque não se quer saber? Porque alguns dos nossos banqueiros são vistos como criaturas divinas. Acontece que essa divindade, que não é o mesmo que virgindade, desmorona-se facilmente como um baralho de cartas. Basta vê-los confundirem-se com artistas, que andam a tiracolo com uma mala de cheques para os distribuir por toda a gente.

E, não julguem que esses sujeitos se parecem com gangsters. Nem pensar! Comportam-se como ilustres CEO, que sabem muito bem como funciona a engrenagem da "lavandaria", em Andorra, em Liechtenstein, no Luxemburgo ou no Mónaco e, por maioria de razão, aqui...

É um mundo em que, como diz Pacheco Pereira, se sabemos mais, percebemos menos. E se percebemos mais, sabemos menos...E saberemos cada vez menos, se do novo governador do Banco Nacional de Angola, a imprensa especializada e o empresariado local, não conhecer a sua visão sobre o que é primário num banco central: a política monetária.

A banca comercial, sacudida com algumas multas, num gesto simbólico que pode vir (ou não) a merecer crédito, aguarda o mesmo...

O que sabemos limita-se, afinal, à sua integração na geração dos chamados "novos talentos". Sabemos, portanto, muito pouco, do muito que se deveria conhecer de um governador do BNA, cujo perfil distingue-se por: não bastar ser um experimentado técnico ou conhecedor dos ziguezagues petrolíferos. Que o diga Amadeu Maurício, antigo vice-ministro do plano, depois de uma passagem discreta pela Sonangol.

Também não bastar ser um alto funcionário do Estado com a categoria de vice-ministro da indústria. Que o diga Abrãao Gourgel, protagonista de uma presença algo deslocada naquele edifício pombalino.

Não bastar ainda ser Ministro das Finanças. Que o diga José Pedro de Morais, que antes de o ser, fora Ministro do Plano e, por mérito próprio, conquistara assento no Board do Fundo Monetário Internacional, numa trajectória que, por si só, não constituiu, à partida, uma "garantia soberana" para tratar "por tu" a gestão do BNA.

E, sem essa "garantia soberana", nunca conseguiremos travar o crescimento da trepadeira e proclamar o fim da boda. Está à vista...