Desde finais do século XIX que há registo de tentativas de criar diamantes de forma artificial, que se prolongaram pelas primeiras décadas do século XX, sempre sem sucesso... até que, na década de 1940, a então União Soviética, os Estados Unidos da América e a Suécia deram os primeiros passos para, efectivamente, criar em laboratório e em poucos dias aquilo que na natureza leva milhões de anos a ganhar o brilho que faz tantas cabeças andar à roda.

A técnica que permite criar um diamante em laboratório é complexa mas, num resumo simples, passa por, através da utilização de altas pressões e altas temperaturas exercidas sobre o carbono, queimar etapas dando-lhe a dureza e o brilho que quase todos sonham ter mas poucos almejam.

Com a tecnologia a fazer em laboratório o "milagre" acontecer de um dia para o outro, com custos muito inferiores aos exigidos na indústria mineira para chegar às gemas de formação geológica, a ameaça dos diamantes artificiais deixou de poder ser ignorada pelas multinacionais, sejam elas a De Beers, a Alrosa ou a angolana Endiama, porque, de facto, esta indústria multimilionária pode estar a evaporar-se à frente dos seus olhos.

A resposta, na verdade, já está no terreno há alguns anos, mesmo que ainda não tenham apostado verdadeiramente no contra-ataque publicitário. Começou por construir, entre os consumidores, um nicho limitado de clientes, apesar de global, a ideia de que os diamantes artificiais não possuem o "glamour" das gemas de formação geológica, procurando retirar-lhes importância enquanto jóias.

Mais recentemente, para "ajudar" os clientes a discernir o natural do artificial, porque os menos especializados dificilmente encontrarão diferenças, surgiram notícias de investimentos e apresentação de aparelhos que distinguem entre uns e outros.

Se esta ofensiva "soft" contra os diamantes artificiais vai resultar, ainda é cedo para perceber, mas há indícios de que o medo dos laboratórios entre as diamantíferas mundiais está a crescer, apesar de a utilização industrial dos diamantes ser, ainda, o principal destino dos diamantes criados artificialmente.

Um dos avisos, em entrevista concedida ao site Diamonds.Net, foi lançado recentemente por Joseph Kuzi, director da Diamond Services, companhia que se dedica à tecnologia de testes aos diamantes sintéticos, dizendo que a ameaça dos diamantes artificiais já é hoje global e que "o fenómeno está a crescer à medida que a tecnologia melhora e a produção de diamantes em laboratório cresce", ou que são encontradas novas utilizações para as "pedras".

Kuzi alerta mesmo para a necessidade de a indústria mineira ter de dedicar mais atenção à questão se quiser proteger o negócio do diamante natural daquilo a que chama "uma epidemia" que pode, se não for encontrada uma solução, "seguir o mesmo caminho das pérolas" cujo valor diminui drasticamente com a injecção no mercado de milhões de pérolas criadas artificialmente.

Joseph Kuzi não tem grandes dúvidas de que este problema para as multinacionais da mineração diamantífera só poderá ser debelado se a tecnologia de detecção for simplificada e acessível ao consumidor, ao mesmo tempo que este dispõe de informação acutilante sobre o que distingue um diamante de laboratório daquele que é extraído dos kimberlitos ou em aluvião, depois de uma "caminhada" de milhões de anos pelo interior da terra.

As ameaças chinesa, dos reactores de plasma e... de DiCaprio

Actualmente, as grandes ameaças à indústria mineira são a China, claramente o maior produtor mundial de diamantes artificiais com destino à indústria, alimentando a sua produção interna de maquinaria que recorre ao diamante; os reactores de plasma, que podem, ainda de forma mais fácil, reproduzir em laboratório as condições de pressão e de temperatura que existem no interior da terra, normalmente a mais de 100 quilómetros de profundidade... e Leonardo DiCaprio, a estrela de Hollywood que há alguns anos se lançou numa ofensiva contra as minas de diamantes por causa do seu impacto na natureza e pela forma como é explorada mão-de-obra semiescrava em muitos países produtores.

A favor do negócio do diamante natural está o facto de as empresas que produzem em laboratório estarem mais viradas para a " criação" de diamantes industriais, sem utilidade para o multimilionário mercado da joalharia, que é onde está o real ganho do sector.

E onde Angola, por exemplo, com a sua produção anual à volta dos nove milhões de quilates, tem, de facto, muito a perder porque os seus diamantes são famosos pela sua limpidez e atractividade para joalheiros de todo o mundo.

Exemplo disso mesmo é o facto de ser uma das minas em território nacional, a do Lulo, liderada pela australiana Lucapa Diamond Company, e onde a Endima tem interesses, na Lunda Norte, que está a produzir os mais valiosos diamantes em todo o mundo, tendo em 2016 chegado aos 2983 dólares norte-americanos por cada quilate.

Todavia, a grande questão, segundo os especialistas mundiais do sector, não é se, mas sim quando é que a tecnologia de laboratório vai conseguir reproduzir, por exemplo, um diamante de 404 quilates como o que foi extraído o ano passado no Lulo, o maior de sempre de produção Angolana, que envolveu um negócio próximo dos 20 milhões de dólares.

Para já, ainda não parece ser possível, a não ser de forma muito excepcional, mas a tecnologia, empurrada pela indústria, como adverte Joseph Kuzi, que procura novas utilizações para o diamante, poder estar a desbravar caminhos que um dia destes podem tornar o fabrico artesanal de diamantes, sejam eles de que cor forem, dos excepcionais rosa e azul, os mais valiosos, aos mais vulgares, uma coisa banal, retirando todo o valor à gema de formação natural ou geológica.

E isto, porque, recorda, "todas as maiores universidades do mundo estudam hoje novas aplicações para o diamante, como, por exemplo, para aplicações em transístores, podendo as suas qualidades especiais permitir a transferência de dados à velocidade da luz".

Parece ser consensual que, se isto se revelar verdade no futuro, é também à velocidade da luz que o actual negócio do diamante geológico se transformará em memória histórica. Mas ver-se-á nos anos vindouros se, de facto, "diamonds are forever" uma febre mundial enquanto expoente máximo da riqueza individual.