Este mercado, que tem a particularidade de decorrer ao mesmo tempo em território da República Democrática do Congo (RDC) e angolano, é um dos principais pontos de passagem de imigrantes ilegais para a Lunda Norte, aproveitando a confusão natural de um mercado de rua, estando agora a servir também como porta de entrada para aqueles que buscam segurança em Angola, fugindo da violência.

Esta suspensão do mercado da Itanda, onde ocorrem importantes transacções comerciais entre os dois países, e considerado essencial para a vida das populações locais, segundo o Governador Provincial da Lunda Norte, Ernesto Muangala, é temporária e foi determinada até que a situação na RDC seja normalizada com o fim dos confrontos no país, especialmente na província do Kasai, que tem uma extensa fronteira com a Lunda Norte.

Sábado é o dia mais forte neste mercado, quando é frequentado por mais pessoas dos dois países, mas também tem lugar à quarta-feira.

A província do Kasai atravessa uma vaga de violência a que a RDC há muito não assistia devido a uma sublevação de uma milícia que segue os mandamentos de um chefe tribal, Kamwina Nsapu, morto pela polícia em Agosto de 2016.

De Agosto do ano passado até agora já foram mortas mais de cinco centenas de pessoas, entre milicianos de Nsapu e elementos das forças de segurança, sendo os dois episódios de maior terror ocorrido recentemente, com a decapitação de 42 polícias pelo milicianos e a execução sumária, a tiro, de duas dezenas de homens de Kamwina Nsapu por alegados militares das FARDC.

Entretanto, dois funcionários da ONU, um americano e uma sueca, foram raptados a 12 de Março último e apareceram mortos, um deles decapitado, na quarta-feira, na área de Kananga, a capital provincial do Kasai.

A par deste cenário tumultuoso no Kasai, a RDC atravessa igualmente uma forte crise politica e eleitoral, com um perigoso impasse entre o poder do Presidente Joseph Kabila e a oposição para definirem um Governo de transição até às eleições gerais que deverão ter lugar até ao fim deste ano.

Ainda ontem as ruas de Kinshasa voltaram a ser palco de barricadas com pneus a arder e tiros disparados um pouco por toda a cidade, o que levou ao quase esvaziamento do trânsito e dos locais de comercio da capital congolesa.

Para complicar ainda mais a situação, os bispos católicos, que estavam a mediar as negociações, anunciaram na terça-feira que se retiravam da mesa de negociações por não verem vontade de resolver os problemas em ambos os lados.

Angola preparada para garantir segurança nas fronteiras

O Governador Provincial da Lunda Norte, numa deslocação aos principais postos de fronteira, e aqueles que estão sob maior pressão, tendo, nos últimos dias sido registados episódios de violência em alguns deles, envolvendo mesmo elementos das autoridades dos dois países, garantiu que estão reunidas as condições para manter o controlo integral da situação.

Ernesto Muangala garantiu ainda, citado pela imprensa, que não há razão alguma para que as populações receiem a ocorrência de problemas graves, tendo feito estas declarações quando passou pelo centro de refugiados de Massongue, criado para acolher congoleses que atravessaram a fronteira para se refugiarem da violência.

Violência que já chegou por diversas vezes à área de Tshikapa, uma das principais cidades do Kasai e situada apenas a 40 quilómetros da fronteira com Angola.

O Governador Provincial da Lunda Norte esclareceu ainda que as forças de segurança angolanas estão em alerta ao longo das fronteiras e prontas para impedir quaisquer conflitos que deflagrem nestes espaços sensíveis, como são as linhas de fronteira.

Sobre os rumores que circulam desde há pelo menos uma semana sobre mortes ocorridas entre as forças angolanas, provocadas por congoleses em fúria nas fronteiras por terem sido impedidos de atravessar, Muangala negou que tenham acontecido, mas admitiu que foram encontrados cadáveres, embora com fardamento que não corresponde ao das polícias nacionais.