A manifestação aconteceu na Esplanada dos Ministérios e foi reprimida pela polícia militar.

A decisão de Michel Temer de convocar as Forças Armadas foi recebida com muitas ressalvas. A resolução foi tomada como uma reação do presidente aos protestos que aconteceram, ao longo do dia de ontem, no Distrito Federal. O decreto autoriza o uso das Forças Armadas. Os militares têm, assim, durante sete dias, "a faculdade de actuar com poder de polícia".

Os manifestantes atearam fogo ao auditório do Ministério da Agricultura com bombas de gás lacrimogénio e spray de gás pimenta, depois de os ânimos se terem exaltado entre os manifestantes e a polícia. As autoridades formaram uma barreira para impedir que os manifestantes se aproximassem do Congresso Nacional, mas os milhares de pessoas conseguiram ultrapassar o bloqueio e atirar pedras à polícia militar.

Alguns edifícios onde se localizam os ministérios brasileiros, em Brasília, foram incendiados durante o protesto. As fachadas dos ministérios de Minas e de Energia, dos Transportes, da Agricultura, do Meio Ambiente, da Cultura e do Planeamento ficaram mesmo destruídas.

O Governo brasileiro deu ordem para que todos os edifícios da Esplanada dos Ministérios fossem evacuados.

O presidente brasileiro tem vindo a ser muito contestado, principalmente depois da divulgação da gravação de uma conversa telefónica com um empresário, Joesley Batista, no âmbito do processo Lava Jato.

Temer recusou-se a renunciar, mesmo depois de ser acusado dos crimes de corrupção passiva, obstrução à justiça e associação criminosa.

A turba encontrou-se perto do estádio de futebol de Mané Garrinha, na capital brasileira, para iniciar a marcha rumo ao Congresso, onde os legisladores estavam reunidos para discutir o sistema político pós-Temer, no caso de o presidente renunciar ou ser destituído. Caso isso aconteça, o Congresso terá 30 dias para escolher um sucessor até às próximas eleições, que estão previstas para o final do próximo ano.

Na última semana, o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou a abertura de um inquérito contra o presidente Michel Temer. A Procuradoria-Geral da República está a investigar as denúncias dos irmãos Batista, proprietários do grupo JBS.

Suspeitas de corrupção passiva, organização criminosa e obstrução à Justiça estão na origem da investigação. Até à data já há 12 pedidos de impeachment.

O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) entregou, na Câmara dos Deputados, um pedido de abertura de um processo de impeachment (afastamento judicial) do Presidente Michel Temer - o primeiro a ter peso jurídico -, acusando-o de "ter cometido um crime de responsabilidade".

"O relatório foi elaborado por uma comissão formada por seis conselheiros federais e concluiu que as condutas do Presidente da República, constantes de inquérito, atentam contra o artigo 85 da Constituição e podem dar ensejo para pedido de abertura de processo de impeachment", diz o parecer da OAB, citado pelo jornal O Globo.

A conduta do Presidente, revelada pelas gravações feitas pelo empresário Joesley Batista, terá ferido também "o artigo 116 da Lei 8.112/1990, que descreve os deveres dos servidores públicos", disse Claudio Lamachia, presidente nacional da OAB, citado pelo El País Brasil.