"Tudo indica que [o impacto no aquecimento global] poderá chegar aos 0,3 graus centígrados", afirmou, em conferência de imprensa, o director do Departamento de Investigação Atmosférica e do Meio Ambiente daquela organização, Deon Terblanche.

O especialista lembrou que, mesmo que haja uma redução nas emissões, isso "não levará de imediato a uma diminuição da concentração de gases com efeito de estufa na atmosfera, porque existe efeito cumulativo e o CO2 permanece na atmosfera durante centenas de anos".

Seja qual for o cenário, a temperatura global "continuará a aquecer", mas, com a retirada dos Estados Unidos deste compromisso pelo clima, a temperatura subirá mais 0,3 graus, indicou.

A renúncia dos Estados Unidos ao cumprimento do principal instrumento mundial de luta contra as alterações climáticas - que visa evitar um aquecimento global superior a 2 graus celsius até final deste século, face aos níveis pré-industriais - levará, pelo menos, três anos a acontecer e outro tanto para se perceber e quantificar o impacto exacto desta ação, explicou Deon Terblanche.

No acordo - adoptado por 195 países em Paris, em 2015, e ratificado já por 147 -, os EUA comprometiam-se a reduzir as emissões de gases com efeito de estufa entre 26% e 28% até 2025, relativamente aos níveis de 2005.

O porta-voz do Grupo Intergovernamental sobre Alterações Climáticas da ONU, Jonathan Lynn, admitiu, por seu lado, que não se sabe qual será a tendência das emissões norte-americanas na sequência desta decisão, já que "há muitos factores que podem influenciar".

Segundo afirmou, é até possível que as emissões norte-americanas continuem a descer, mesmo com a saída dos EUA do Acordo de Paris.

Como lembrou a porta-voz da Organização Mundial de Meteorologia, Clare Nullis, a implementação do Acordo de Paris depende muito das acções dos Estados, mas também das cidades, municípios e do sector privado e muitos responsáveis já anunciaram estar "preparados para assumir as rédeas" da luta contra as alterações climáticas.

Concluído em 12 de dezembro de 2015 na capital francesa, o Acordo de Paris entrou formalmente em vigor a 4 de novembro de 2016.

O acordo histórico teve como "arquitectos" centrais os Estados Unidos, então sob a presidência de Barack Obama, e a China, e a questão dividiu a recente cimeira do G7 na Sicília, com todos os líderes a reafirmarem o seu compromisso em relação ao acordo, com a excepção de Donald Trump.