Num extenso trabalho publicado este fim-de-semana, o The Wall Street Journal passa a pente fino os investimentos de Isabel dos Santos em Angola e Portugal, e recorda algumas datas-chave da sua vida. Como a formação em Engenharia, em 1990, no King’s College de Londres, e o casamento, em 2002, com o coleccionador de arte Sindika Dokolo.

Com o título “Richest Woman Draws Scrutiny Over Source of Wealth” – em tradução livre “Origem da riqueza da mulher mais rica [de África] gera desconfiança” –, o jornal começa por trazer à tona uma das principais suspeitas que recai sobre a filha mais velha do Presidente de Angola.

“Os legisladores europeus querem saber se o dinheiro aplicado nos negócios é proveniente das receitas petrolíferas estatais [de Angola]”, escreve o The Wall Street Journal (WSJ), recuperando, a este propósito, algumas das raras declarações que Isabel dos Santos tem proferido à imprensa.

Entre as afirmações encontram-se referências à actual crise económica, e uma resposta directa às acusações de que beneficia de uma situação privilegiada por ser filha do Presidente, José Eduardo dos Santos.

“Não sou financiada por nenhum dinheiro estatal nem por nenhum fundo público”, garante a empresária, lembrando que “a situação económica actual é difícil”, e que “com a redução do preço do petróleo, definitivamente todos estamos a sentir o aperto”.

A conjuntura adversa, escreve o WSJ, também se reflecte nos múltiplos negócios da empresária.

“O valor do seu império, sedeado em dois continentes [África e Europa], abrandou em sintonia com a evolução dos mercados globais. Segundo a revista Forbes, o seu património está hoje avaliado em 3,1 mil milhões de dólares, enquanto em 2015 valia 3,4 mil milhões de dólares e, no ano anterior, 3,7 mil milhões de dólares”, lê-se na análise do jornal norte-americano.

Pelo contrário, a controvérsia gerada à volta do nome Isabel dos Santos não pára de crescer, nota o WSJ.

“O seu portfólio na banca, retalho e empresas de telecomunicações fazem dela um objecto de fascínio junto dos media, e, ao mesmo tempo, de permanente especulação, centrada na suspeita de que o seu dinheiro vem do acesso do seu pai às receitas petrolíferas do Estado angolano”, constata a publicação, que revisita alguma das polémicas.

“Ela conhece o patrão”

As mais recentes, envolvendo parceiros portugueses, incluem o sector da energia, com a aquisição de 65% da empresa Efacec – num negócio acusado de violar as regras de transparência europeias –, e o mercado da banca, agitado pelo processo do português BPI. Neste caso, a empresária, que está presente na estrutura accionista através do banco angolano BIC vem rejeitando a pretensão lusa de cindir os activos africanos e criar uma sociedade nova com esses negócios.

Mais do que destacar alguns dos braços-de-ferro que acompanham Isabel dos Santos, o WSJ observa que na base de tanta contestação – liderada pela “oposição política angolana e grupos internacionais de defesa dos direitos humanos” – encontra-se também a avaliação dos seus rendimentos em contraponto aos índices de pobreza nacional.

Para além disso, as acusações de paternalismo não abrandam. “A sua posição privilegiada permite-lhe resolver tudo rapidamente e com eficiência”, defende Alexander Thomson-Payan, norte-americano do Grupo TGI, concorrente da UNITEL, detida pela empresária, na venda de telemóveis em Angola.

Sem rodeios, Thomson-Payan aponta a explicação para o cúmulo de sucessos empresariais de Isabel dos Santos, numa clara alusão ao Presidente José Eduardo dos Santos: “Ela conhece o patrão”.

Desvalorizando as críticas, a denominada "princesinha" atira: “Ele é muito ocupado, e eu sou muito ocupada”.