Os ganhos da última semana tinham sido conseguidos através da anunciada renovação da estratégia de cortes na produção no seio da OPEP+, organismo que agrega os Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e a Rússia à frente de um grupo de produtores não-membros do "cartel", especialmente com a confirmação de que Moscovo está cada vez mais disponível para emparceirar com a Arábia Saudita nos "estímulos" aos mercados.

Mas nem a estratégia da OPEP+, que já deu provas de eficácia no passado resiste a quebra na procura global gerada pelo esfriamento da economia chinesa, severamente afectada pela aplicação de tarifas castigadores pelos EUA de Donald Trump sobre mais de 300 mil milhões de bens Made in China.

E se a economia chinesa, a segunda mais viçosa do mundo, sofre com a perda de competitividade dos seus produtos no mercado norte-americano, o mais robusto do planeta, a economia americana também mostra estar a sofrer uma quebra da sua impetuosidade devido à resposta de Pequim que passa, de igual modo, pela aplicação de taxas a bens Made in USA que já somam mais de 60 mil milhões de dólares em produtos taxados no contexto deste interminável guerra comercial.

No fim da linha, quando os dois "elefantes" mundiais lutam, é, como se sabe, o capim que mais sofre e esse, nesta metáfora, são os países mais pobres ou a atravessar graves crises económicas, incluindo os produtores de petróleo como Angola.

Segundo dados da indústria chinesa publicados pelas agências, esta está a cair pelo segundo mês consecutivo até Setembro, com indícios claros de que essa quebra resulta directamente da diminuição das exportações para os EUA.

Mas os analistas, como Stephen Innes, estratega para a região da Ásia e do Pacífico da Axi Trader, estes problemas podem ser rapidamente minimizados com os sinais de progresso positivo nas conversações entre Pequim e Washington, com ambos os lados a afiançar que estão a ser dados passos importantes e na direcção certa.

A par disso, os produtores de petróleo norte-americanos têm estado a desinvestir, o que é um contributo para a redução da oferta de crude nos mercados internacionais, que se vem juntar ao anúncio por parte dos ministros da Energia russo, Alexander Novak, e saudita, Abdulaziz bin Salman, de que o esforço de estabilização do mercado petrolífero não vai parar, apostando estes dois gigantes mundiais da produção e exportação de crude na criação de um mecanismo de sólida previsibilidade para o sector, o que significa que a OPEP+ está apostada em reforçar ou a prolongar os cortes de 1,2 milhões de barris por dia que vigora deste 01 de Janeiro deste ano.

Para já, este acordo dos 1,2 mbpd tem garantia até Março de 2020, altura em que os países membros voltam a reunir para decidir o que fazer a seguir, sendo de prever, após estes anúncios, que os cortes se vão manter ou mesmo aprofundar.

Contra-corrente

Como o NJOnline noticiou na semana passada, segundo o analista Dan Steffens, presidente do Energy Prospectus Group (EPG), num texto publicado no site OilPrice, o petróleo vai er um desempenho contra-intuitivo em 2020, com a possibilidade de se observar uma densa escassez de oferta, o que vai contra a corrente existente de diminuir a queima global de hidrocarbonetos para defender o clima global.

Isto, porque, aponta, a procura de crude é sazonal e o mês de Outubro é o seu pico mais baixo, esperando os mercados que nos próximos oito meses a procura cresça entre 1,5 e 2 milhões de barris por dia.

Steffens lembra ainda que é impossível para a indústria norte-americana do petróleo de xisto (fracking) continuar a aumentar a sua produção com a actual tendência em baixa do número de engenhos em funcionamento.

Sublinhando que, apesar de o mundo procurar entusiasticamente uma alternativa ao petróleo, por questões ambientais, nada o substitui, para já, porque, adianta Dan Steffens, a densidade energética do gasóleo e da gasolina é insuperável e o mundo move-se a combustíveis com base nos hidrocarbonetos

E essa é a razão pela qual a procura mundial cresce todos os anos, como o mostram os gráficos que desenham a evolução da procura do "ouro negro" entre 1999 - 75 milhões de barris por dia - e 2019, onde esta é de 101 milhões de barris por dia em combustíveis líquidos produzidos a partir do petróleo, apesar dos problemas ambientais todos.

Com isto, enfatiza, pode-se concluir que todos os anos - é esse o ritmo que o ciclo de 1999 a 2019 demonstra - a procura vai crescer 1,3 milhões de barris por dia e não há nada que indique que se possa estar perto do pico máximo dessa mesma procura.

E, mesmo em relação ao impacto da guerra comercial entre os EUA e a China, Steffens entende que este está a ser sobrevalorizado quanto aos efeitos na procura, que não existem indicadores de nenhuma recessão por essa causa e mesmo, sublinha, a AIE, nas previsões para 2020, apenas aponta para uma diminuição de alguns milhares de barris, que, parecendo bastante, na verdade não é porque o mundo consome todos os dias 101 milhões de barris por dia de combustíveis líquidos com base no petróleo.