Desde a Noruega ao Brasil ou ao Irão, dos Emirados Árabes Unidos à Guiana, o mundo atravessa um período vigoroso em novas descobertas de reservas de petróleo, o que pode ser explicado pelo regresso dos investimentos à pesquisa após o período devastador que começou em 2014, com a queda abrupta do valor do barril, e no qual as multinacionais do sector pura e simplesmente perceberam que o melhor era esperar para ver.

E, com o regresso do barril aos 60, 70 ou mesmo 85 USD entre 2018 e 2019 - tinha chegado aos 29 USD em Fevereiro de 2016 -, esse cenário de contenção nas despesas alterou-se e as apostas na pesquisa deram frutos, como se esperava, até porque, a partir de 2015 e até 2017, o mundo simplesmente deixou de ouvir notícias de novas descobertas, num recorde negativo que remontava à década de 1940, por causa da II Guerra Mundial.

Angola foi uma das grandes vítimas desse estancamento dos investimentos, a ponto de neste período, como a Agência Internacional de Energia (AIE) frisou no seu relatório de 2018, grande parte da sua infra-estrutura produtiva ter envelhecido substancialmente, os investimentos estagnaram no "zero" e a produção sofreu um histórico declínio, ao mesmo tempo que os preços se comprimiam em forma de crise económica profunda que ainda hoje se faz sentir com vigor.

E, apesar do retorno dos investimentos, importante mas ainda longe dos bons velhos tempos do barril acima dos 100 USD, das profundas alterações à legislação para o sector, e o lançamento de um concurso para 10 nonos blocos nas bacias de Benguela e do Namibe, a produção nacional tem mantido um ritmo descendente, menos evidente mas em baixa, e até 2023, como ainda estima a AIE, Angola vai produzir cerca de 1,3 milhões de barris por dia, quase menos 150 mil que hoje.

O que se passa em Angola é, com mais ou menos substância, a realidade de outros países da OPEP, desde logo a própria Arábia Saudita, o maior exportador mundial, que está na linha da frente dos esforços para fazer chegar o barril à casa dos 80 USD, valor considerado pelos analistas como mínimo para o equilíbrio das suas contas públicas, mas também a Nigéria, a Venezuela, a Rússia - que está com a OPEP na denominada OPEP+, criada para definir uma política de cortes mais abrangente em finais de 2016 -, entre outros.

Aliado ao facto de novas descobertas serem um "martelo" a enterrar os preços do barril, ou o crescimento das energias alternativas por razões ambientais, a guerra comercial entre a China e os EUA, com repercussões nas restantes grandes economias mundiais, tem sido um "Caterpillar" a esmagar o valor do crude nos mercados internacionais, o que exige medidas drásticas por parte da OPEP+.

E é isso mesmo que se espera que aconteça já nos primeiros dias de Dezembro quando os 14 membros da OPEP mais os seus aliados na OPEP+ - liderados pela Rússia e integrando ainda importantes produtores como o Cazaquistão ou o México - se reunirem em Viena de Áustria para estabelecerem o que vão fazer quanto à política de cortes, que actualmente - e pelo menos até Março de 2020 - está nos 1,2 milhões de barris por dia (mbpd) mas que já foi de 1,8 mbpd em 2017 e até ao início de 2018.

No mais recente relatório da AIE sobre o petróleo - World Oil Outlook -, estima-se que que o fornecimento mundial de crude mantenha um ritmo fortemente ascendente, chegando mesmo a passar os 2 mbpd em 2020, muito acima do que estava plasmado em anterior relatórios, à volta de 1,2 mbpd, por causa das novas descobertas em países como o Brasil e a Noruega, mas ainda e sempre por causa do "fracking" norte-americano.

No entanto, hoje, segunda-feira, o barril de Brent, vendido em Londres e onde o valor médio das exportações angolanas é definido, registava, cerca das 10:20, um aumento de 0,20%, para os 63,42 USD, em relação ao fecho de sexta-feira passada.

E agora OPEP+?

A resposta definitiva só será conhecida durante a reunião da OPEP+ em Viena, mas os analistas não se têm mostrado tímidos ao admitir que os cortes na produção vão ser mantidos, como, alias, tem sido igualmente admitido pelos ministros da Energia da Rússia, Alexander Novak, e saudita, Salman bin Abdulaziz Al Saud, que são, de facto, quem acaba por ter a última palavra na definição das políticas do "cartel" devido à sua liderança na produção e na exportação mundial.

Para já, os actuais 1,2 mbpd são para manter, provavelmente até finais de 2020, mas existe em cima da mesa uma igualmente forte possibilidade de estes cortes serem acrescidos de mais algumas centenas de milhar de barris por dia, porque, com as novas injecções de crude nos mercados a partir de países que não integram esta "task force", o excesso de oferta poderá empurrar o valor do barril para valores irrisórios face às necessidades de obtenção de receitas da maior parte dos países que ainda não conseguirem livrar-se da dependência das exportações desta matéria-prima, como é o caso de Angola, ainda longe de ter conseguido a almejada diversificação económica.

Apesar disso, o que integra as propostas angolanas no seio da organização a que pertence desde 2007 é desconhecido, sendo a última referência pública sido emitida em 2016 pelo antigo ministro dos Petróleos, que assumiu serem os 70 USD por barril um valor razoável para as contas do país.

Porém, se se tiver em consideração o OGE para este ano, e para o próximo, o Executivo "contenta-se" com os 55 USD por barril, que é o valor a partir do qual foi elaborado o documento mastro do deve e do haver do Estado.

Para já, e como conta no Outlook da AIE, os países da OPEP devem contar com uma diminuição da procura por petróleo por pate das economias consumidoras, essencialmente por causa dos recuos na "paz" esperada entre China e EUA, com uma esperada descida na procuta dos barris produzidos pela organização, de 30,2 mbpd para 28,2 mbpd, e com a chegada aos mercados de mais uns milhões de bpd de Brasil, Noruega ou Guiana, onde foram anunciadas importantes descobertas nos últimos meses, o "cartel" na forma de OPEP+ deverá ser obrigado a cortar ainda mais na sua produção para evitar que o barril volte a resvalar para preços irrisórios.

Mas, e, como num sector como o petrolífero, o que tem havido mais são os "mas", existe a possibilidade de um admissível colapso da produção do petróleo de xisto, ou "fracking", nos EUA, que foi um dos responsáveis pelos desequilíbrios mundiais e por fazer dos EUA o maior produtor mundial actualmente - contando, naturalmente, com os cortes artificiais sauditas e russos.

Isto, porque o breakeven do "fracking", apesar dos avanços tecnológicos desta indústria alternativa, se situa ainda muito acima dos preços de mercado registados há já vários anos, entre os 70 e os 75 USD em média, por barril.

Esta condição tem levado ao fechar da torneira dos financiamentos bancários a uma indústria que teve nos últimos dois anos um impulso forte oriundo da Casa Branca, onde Donald Trump não se tem cansado de tudo fazer para manter o petróleo a valer o menos possível, inclusive manter uma indústria como esta artificialmente activa, pelo menos de acordo com as normais exigências das regras de mercado.

Contra-corrente

Mas há quem, e com a propriedade conferida pela experiência, pense que está ainda longe o tempo em que o petróleo vai deixar de ser o rei da energia que move o mundo e por longos anos o seu reinado está assegurado, mesmo que isso pareça contra-intuitivo.

Como o NJOnline noticiou na semana passada, segundo o analista Dan Steffens, presidente do Energy Prospectus Group (EPG), num texto publicado no site OilPrice, o petróleo vai ter um desempenho contra-intuitivo em 2020, com a possibilidade de se observar uma densa escassez de oferta, o que vai contra a corrente existente de diminuir a queima global de hidrocarbonetos para defender o clima global.

Isto, porque, aponta, a procura de crude é sazonal e o mês de Outubro é o seu pico mais baixo, esperando os mercados que nos próximos oito meses a procura cresça entre 1,5 e 2 milhões de barris por dia.

Steffens lembra ainda que é impossível para a indústria norte-americana do petróleo de xisto (fracking) continuar a aumentar a sua produção com a actual tendência em baixa do número de engenhos em funcionamento.

Sublinhando que, apesar de o mundo procurar entusiasticamente uma alternativa ao petróleo, por questões ambientais, nada o substitui, para já, porque, adianta Dan Steffens, a densidade energética do gasóleo e da gasolina é insuperável e o mundo move-se a combustíveis com base nos hidrocarbonetos

E essa é a razão pela qual a procura mundial cresce todos os anos, como o mostram os gráficos que desenham a evolução da procura do "ouro negro" entre 1999 - 75 milhões de barris por dia - e 2019, onde esta é de 101 milhões de barris por dia em combustíveis líquidos produzidos a partir do petróleo, apesar dos problemas ambientais todos.

Com isto, enfatiza, pode-se concluir que todos os anos - é esse o ritmo que o ciclo de 1999 a 2019 demonstra - a procura vai crescer 1,3 milhões de barris por dia e não há nada que indique que se possa estar perto do pico máximo dessa mesma procura.

E, mesmo em relação ao impacto da guerra comercial entre os EUA e a China, Steffens entende que este está a ser sobrevalorizado quanto aos efeitos na procura, que não existem indicadores de nenhuma recessão por essa causa e mesmo, sublinha, a AIE, nas previsões para 2020, apenas aponta para uma diminuição de alguns milhares de barris, que, parecendo bastante, na verdade não é porque o mundo consome todos os dias 101 milhões de barris por dia de combustíveis líquidos com base no petróleo.