E as perspectivas são ainda melhores para o futuro, porque a queda acentuada, de mais de 20 por cento no valor do barril desde que este atingiu o seu pico, em mais de quatro anos, em Outubro passado, onde chegou aos 85 USD, deveu-se claramente, como admite a generalidade dos analistas, a um erro de cálculo primário da Arábia Saudita e da Rússia.

Isto, porque quando em Junho último, pressionados pelo Presidente dos EUA, Donald Trump, aceitaram aumentar a produção na casa do milhão de barris por dia, abriram caminho à queda do preço pela via do excesso de oferta face à procura, que permitiu às grandes economias, como a norte-americana, chinesa e indiana, acumular reservas significativas e a baixo preço, ao ponto de o Instituto dos Petróleos dos EUA ter divulgado que os stocks cresceram 10 milhões de barris em escassos dias.

Perante este cenário, e com fortes críticas dos restantes membros da OPEP, muitos destes países claramente petrodependentes, como ainda é o caso de Angola, os ministros do Petróleos da Organização de Países Exportadores reuniram há dias em Abu Dhabi, com a Rússia e outros aliados no programa de cortes iniciado em Janeiro de 2017 (OPEP+), que permitiu retirar o crude do pântano dos preços baixos em que estava, para decidir o que vão fazer de forma a evitar outra crise parecida com aquela que em 2014 levou o barril para valores inferiores a 30 USD.

A decisão foi, no imediato, retirar 500 mil barris da produção actual, já a 01 de Dezembro, e, depois, progressivamente, mais 500 mil até que o mercado deixe de contar com mais oferta que procura, o que deverá, crê a OPEP, voltar a fazer o preço subir.

O efeito parece ter sido, pelo menos parcialmente, positivo e os mercados iniciaram já uma inversão na tendência em baixo do valor do barril, passando dos 65 de quinta-feira da semana passada para os 67,26 em que estava às 10:20 de hoje.

No entanto, apesar desta recuperação, a verdade é que os grandes bancos mundiais, que insistiam numa subida para próximo dos 100 USD em 2019, como o Bank of America, já admitem que esse cenário poderá não suceder.

Profundas alterações

Porém, no fim da linha, o que vai determinar o valor do barril são as profundas transformações em que o mundo está, como sejam as tecnológicas, na procura de alternativas às poluentes energias provenientes da queima de combustíveis fósseis, ou ainda às alterações nas normais internacionais que regem sectores como a navegação e transportes marítimos, ou ainda as crises político-económicas, como o caos na Venezuela, a guerra comercial entre a China e os EUA, entre outros.

Ou ainda, como a Agência Internacional de Energia (AIE) também não deixou, em Março, de avisar que Angola é uma das grandes vítimas da crise de 2014, quando o barril desceu de forma vertiginosa, dando origem à crise económica que o país ainda atravessa, ao sublinhar que a baixa dos preços levou as multinacionais petrolíferas a desleixar os trabalhos de manutenção das suas infra-estruturas produtivas, desinvestir e procurar alternativas menos dispendiosas.

Face a isto, e apesar dos melhores preços dos últimos meses, a produção angolana vai descer gradualmente até 2023 dos actuais, em média, 1,5 milhões de barris por dia para uns escassos 1,29 milhões.

Quebra esta que não deverá ser compensada integralmente pelas medidas legislativas decididas pelo Governo, nomeadamente a reestruturação da Sonangol, tornando-a mais ágil e focada no seu principal negócio, os incentivos fiscais tornados lei, como, por exemplo, a diminuição das taxas aplicadas a exploração dos denominados campos marginais, ou ainda ao gigantesco investimento da Total no seu Kaombo, que deverá, no próximo ano, acrescentar mais de 200 mil barris à produção angolana.