Perante a necessidade de repetir a eleição, devido à decisão extraordinária do poder judicial queniano, cenário quase único no mundo, havendo, todavia, alguns exemplos, como as presidenciais austríacas de Maio deste ano, Odinga veio a público sublinhar que mantém a desconfiança na Comissão Eleitoral, depois desta ter reagendado o escrutínio para 17 de Outubro.

Recorde-se que as eleições foram anuladas pela constatação de irregularidades que, alegadamente, beneficiaram o recandidato e Presidente cessante Uhuru Kenyatta, e na sequência da erupção de violência no país que fez dezenas de mortos e centenas de feridos, a maior parte apoiantes de Odinga (na foto) que contestavam o resultado eleitoral.

Dias depois da ida às urnas, a 11 de Agosto, a Comissão Eleitoral queniana declarou Kenyatta vencedor, com mais de 54 por cento dos votos, contra os 44,4% de Odinga, o que fez estalar as ruas de Nairobi, com milhares de apoiantes do candidato derrotado a exigirem a anulação das eleições.

O que foi conseguido através do recurso feito chegar ao Tribunal Superior, que, na sexta-feira julgou pela anulação da eleição, resultando na marcação de uma nova data, 17 de Outubro, que o líder da oposição só aceita se forem demitidos vários membros da Comissão Eleitoral e que o sistema de transmissão informática dos resultados entre as mesas de voto e o centro de apuramento nacional seja revisto para garantir que não volta a ser pirateado.

Para além destas exigências, Odinga quer ainda que seja permitida a participação dos outros candidatos para que não seja uma espécie de segunda volta mas sim uma eleição de raiz clara e inequívoca.

Raila Odinga, de 72 anos, líder da candidatura do NASA, pretende que esta situação seja enfrentada como uma oportunidade para que nunca mais volte a acontecer e que os membros da CE sobre os quais existem suspeitas de comportamentos ilegais sejam "investigados, julgados e devidamente punidos se se provarem as acusações".

Uhuru Kenyatta irritado

O candidato que chegou a ser vencedor das eleições, Uhuru Kenyatta, depois de ver anulada a possibilidade de renovar o seu mandato a 08 de Agosto, reagiu com veemência à decisão do tribunal que constitui uma absoluta excepção em África e que, segundo alguns analistas, pode ser uma porta aberta para exigências semelhantes noutros países do continente.

Face a este desfecho, que permite a Odinga, depois de ter sido derrotado por três vezes, em 1997, 2007 e 2013, tentar novamente a eleição, Hhuru Kenyatta, filho do histórico combatente pela independência do Quénia, Jomo Kenyatta, saiu a público para criticar os juízes, afirmando que o país vive um problema com a sua Justiça e que isso "tem se ser resolvido".

Chamou "bandidos" aos juízes, embora tenha aceitado a sua decisão e dito que vai voltar a ser candidato.