Era suposto olharmos para o Estado como uma pessoa de bem, que respondesse, sem hesitar, aos superiores anseios do povo, a quem a Constituição atribui a titularidade da soberania.

Entre as razões que nos permitem com alguma segurança fundamentar a nossa afirmação sobre a inversão de valores que esvazia o papel representativo e participativo da acção política na sociedade angolana está, em nossa opinião, o segundo maior fardo que o país carrega desde o alcance da independência, claro está, a seguir ao conflito armado: o monopartidarismo.

O facto de Angola ter experimentado durante 15 anos um regime monopartidário cujos tentáculos e legado aprisionam ainda hoje o país, tornou-a refém de si mesma.

A aceitação do multipartidarismo (custa-nos ainda hoje falar em mudança efectiva de regime político em Angola, em razão das práticas correntes), ocorrida no princípio da década de 1990 do século passado, como advento de um tempo que se pretendia de maior prosperidade para o povo angolano, resvalou num Estado adiado que passou daí por diante, até mais ou menos à aprovação da Constituição em 2010, a uma espécie de regime de concessões.

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