Mentira, fraude e manipulação não são uma criação literária de Agostinho Neto. Também não foram inventadas por Holden Roberto. Muito menos constituem um activo exclusivo do pensamento político de Jonas Savimbi.

E se não formam uma originalidade de José Eduardo dos Santos, não nasceram agora com a ascensão ao poder de João Lourenço, nem fazem parte do património imaterial da oposição.

Também não fazem parte da genética dos brancos, não integram o perfil psicológico dos negros, nem estão apensos à biografia dos mestiços.

De mãos dadas, em 1974, mentira, fraude e manipulação fizeram as bagagens e rumaram para Portugal nos "adidos" e, 14 anos depois de luta armada e muito mais anos de luta clandestina, regressaram ao país...

De mãos dadas, 44 anos depois, estão aí, em grande forma, no Governo, no Parlamento, nos Partidos Políticos, nas Forças Armadas, na Polícia, nos Serviços de Segurança, na Cultura, na Comunicação Social ou Desporto.

Mentirosos, fraudulentos e manipuladores andam aí a deambular aos magotes, mas sempre revelaram ter as pernas curtas...

Mas, não os subestimemos. Encapuzados com a pele de cordeiro, são, muitas vezes, tão letais que, se não forem neutralizados a tempo e horas, tendem a capturar a própria governação. Como, agora, está a acontecer por aqui...

Com um Governo que, envolvido numa partida de futebol, mais se parece a um desconjuntado time de bairro em que alguns dos jogadores que ocupam posições chaves passam o tempo a olhar para o banco adversário...

E com medo de ir ao choque e de sujar os calções, sem capacidade de iniciativa, já não escondem a natureza passiva do seu posicionamento em campo.

Cúmplices nalguns casos das investidas dos adversários, não é por acaso que têm estado a deixar intencionalmente a rectaguarda completamente desguarnecida.

Em vez de constituírem a primeira e segunda linhas de apoio ao capitão da equipa, revelam-se mais preocupados com as suas agendas pessoais, deixando aquele completamente sozinho de peito aberto às balas disparadas a partir do campo contrário.

Estamos, pois, perante uma equipa em que a falta de coesão e o desajustamento da táctica dalguns jogadores em relação à estratégia do líder, estão a ser dominados pela "mentira, fraude e manipulação".

Mentira, fraude e manipulação que, aliadas à incompetência, tendem agora a impor a mediocridade ao nível da liderança da sua bancada da Assembleia Nacional.

Uma tendência que contraria, de resto, a própria história parlamentar do MPLA, que, durante anos, levando a sério o combate parlamentar, nos habituou sempre a ter naquele fórum líderes fortes.

Líderes com têmpera política, capacidade intelectual ou visão económica como João Lourenço, Bornito de Sousa, Virgílio Fontes Pereira ou Salomão Xirimbimbi.

A UNITA, como maior partido da oposição, também não se ficou pelos ajustes e teve na linha da frente tribunos como Adalberto da Costa Júnior, José Katchiungo ou Paulo Lukamba "Gato", que, vezes sem conta, provocaram dores de cabeça ao seu principal adversário.

E mesmo a CASA-CE, aquela "salada russa" que toda a gente conhece por desconhecer o paradeiro dos integrantes da ex-Banda Desenhada, não deixou de apresentar como "cabeça de cartaz" figuras como André Mendes de Carvalho "Miau", Lindo Bernardo Tito e outras que se foram tornando incómodas para o MPLA.

Petrificado no poder, o MPLA não está agora a revelar-se capaz de resistir aos efeitos da erosão do próprio poder. Que trouxe consigo um pesadelo que está a arrasar por completo os alicerces do seu edifício: a corrupção.

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