Durante muito tempo, e para desgraça de todos nós, a governação estava reduzida aos gabinetes luxuosos que foram inventando, partindo do princípio que é a pesporrência, a ostentação e o distanciamento de todos nós, os governados, era a melhor forma de impor decisões tomadas sem nenhuma preocupação dos seus reflexos nas populações, de defender os seus interesses individuais, familiares e de grupo e levar as pessoas a não reclamarem principalmente pela via do medo.

Típico da ignorância, normalmente de mãos dadas com a arrogância e alguns tiques autoritários, foram-nos reduzindo sempre que podiam ao silêncio. No caso da governação de Luanda, é hoje claro que os sucessivos "comandantes deste navio" não só meterem água por todo o lado, como impulsionaram a realidade quase ingovernável que é a nossa capital.

O anúncio de um encontro do governador Adriano Mendes de Carvalho, realizado com engenheiros, arquitectos e outros quadros da especialidade, por causa da gravidade dos problemas criados pelas chuvas, caiu bem em que todos quantos defendem que o arco da governação não se pode cingir às minorias e aos interesses partidários. São muito mais importantes as aspirações das populações do que os legítimos mas secundários joguinhos partidários, que não representam nem nunca representam, em boa verdade, a esmagadora maioria da população.

Depois do erro político cometido ao recusar-se a receber uma delegação de activistas, em contraponto às garantias dadas pelo Presidente da República quanto a uma abertura à sociedade civil e à auscultação de todas as forças vivas - para usar um jargão - este encontro do governador de Luanda, pode marcar uma mudança de paradigma de governação que só beneficiará não apenas o próprio, como os seus auxiliares e todos nós.

Quando questões de fundo, que nos afectam a todos, muitas delas com implicações graves para a cidade (como a destruição que vem de há décadas do património histórico luandense) vêm a sua discussão e o debate à sua volta ampliados aos mais diferentes níveis, não só a co-responsabilização aumenta, como impulsiona a assumpção comum das decisões que se tomem. O exercício quotidiano da actividade política, ao contrário do que dizem correntes ideológicas que detestam "misturar-se" com as comunidades, esquecendo-se que são, acima de tudo nossos servidores, não é um exclusivo para os políticos que fizeram dessa actividade a sua vida profissional, as mais das vezes por não terem capacidade profissional para fazerem mais nada...

A política, o direito à intervenção a todos os níveis, é um direito e uma obrigação que nos cabe enquanto cidadãos.

Já não era mais admissível que se tivessem constituído numa casta em que todos nós existíamos como cidadãos de segunda classe, enquanto tomavam decisões - as mais arbitrárias e disparatadas - sem que pudéssemos reclamar, discutir e pôr em causa, sem termos de ser militantes disto ou daquilo, deste ou daquele.

Ao iniciar este diálogo, Adriano Mendes de Carvalho, não só dá um passo importante na reafirmação de uma das promessas eleitorais do Presidente João Lourenço, - aprofundar o diálogo com todos, sem exclusões - como cumpre, do ponto de vista pessoal, um legado do qual nunca poderá fugir.

Seu Pai, Agostinho André Mendes de Carvalho, Uanhenga Xitu, foi dos raríssimos dirigentes do partido no poder que compreendeu, no seu tempo, que o segredo da manutenção no poder passa por criar à volta de quem dirige, um ambiente de respeito, consideração e de consciência de que, quem decide, tem um conhecimento real das verdadeiras dificuldade da esmagadora maioria da população. E que não é pela via do distanciamento, do medo, de imposições absurdas e doentias e da voragem negocial em proveito próprio que se cria um ambiente propício à recuperação económica que nos é exigida, depois de, por via dessas práticas, terem deixado o país no estado em que deixaram.

Esperemos que este tipo de prática política prossiga a todos os níveis e que outros governantes se consigam rever no exemplo de Adriano Mendes de Carvalho. Para bem de toda a comunidade. E para bem dos próprios dirigentes.