O NJ teve acesso a um documento de 47 páginas, em que representantes sindicais e de professores denunciam à administração da instituição (cartas datadas de Junho e Outubro de 2023) e à embaixadora de França em Angola, Sophie Aubert (documento enviado a 14 de Novembro de 2023) várias situações de irregularidade que têm manchado a imagem e a reputação do LABB. Falam da degradação da qualidade de ensino e da aprendizagem, alegam falta de condições de trabalho nas salas de aula, nas salas para os professores e também nos espaços desportivos. Fala-se em despedimentos arbitrários de professores estrangeiros, problemas com a qualificação de professores, falta de pedagogia e de psicologia na relação com os alunos.

As fontes que falaram ao NJ sob anonimato destacaram a questão do mau encaminhamento dos problemas escolares, a existência de uma estrutura bastante disfuncional, bem como a violação permanente e sistemática dos princípios e valores que fundaram a República Francesa: "Liberdade, Igualdade e Fraternidade". Em reacção às denúncias, nos finais de Novembro e início de Dezembro do ano passado, Paris, por via da AEFE (Agência para a Educação Francesa no Exterior), enviou o inspector e também responsável -adjunto pelo acompanhamento externo, o Sr. Arnaud Régnier, que, durante o período em que esteve em Luanda, procurou constatar "in loco" as denúncias efectuadas. O certo é que, segundo as nossas fontes, a montanha pariu um rato e o relatório do enviado da AEFE terá ignorado todas as denúncias dos professores e acabou dando um voto de confiança à gestão de Laurent Bengué. Outro dado interessante é que existe uma espécie de "guerra surda" entre docentes nacionais e estrangeiros na LABB. Se, por um lado, existe uma boa parte de docentes estrangeiros que não o suportam, por outro, existe uma boa parte de docentes nacionais que elogiam a sua gestão e a quem ele melhorou condições, tendo efectuado aumentos salariais na ordem de 34%, conforme as nossas fontes. Estas divisões tornam a situação muito mais complexa, havendo a necessidade de se encontrar um ponto de equilíbrio, de se harmonizar todo um sistema de relações entre a escola, professores, alunos, encarregados de educação e a Embaixada de França. O LABB precisa de valorizar o trabalho dos professores, aperfeiçoar os sistemas de avaliação dos docentes, valorizar a disciplina e os hábitos de trabalho, manter regras de civilidade, respeito e elevação na relação com os professores, alunos e encarregados de educação.

A Escola Francesa de Luanda "carrega" o nome de uma figura de grande prestígio, de nível e elevação, de um homem muito respeitado em Angola e que esteve ligado ao seu processo de paz: Maître Alioune Blondin Beye. É mesmo a mais prestigiada instituição de ensino estrangeiro em Angola. É escola de referência e por onde passaram os filhos do ex-Presidente, José Eduardo dos Santos, e de altas figuras do seu Executivo.

Hoje, as nossas fontes falam de um neto do actual Presidente da República, João Lourenço, de um filho do líder da UNITA, Adalberto Costa Júnior, filhos de altos membros do actual Executivo, filhos de membros do corpo diplomático acreditado em Angola e também de figuras públicas nacionais ligadas ao meio artístico. É uma escola de elites, cara e procura proporcionar um ensino de excelência e de qualidade. Estamos a falar de uma instituição que tem hoje mais de mil alunos (na sua maioria angolanos) e que estas denúncias provocam muita preocupação, incertezas e instabilidade. Perante estes factos e perante a abordagem do NJ, a escola e a Embaixada de França em Angola devem evitar manobras dilatórias e prestar esclarecimentos.

A preocupação com a organização da Festa da Francofonia não pode deixar de lado o dever de informação perante tão grave denúncias, nem mesmo o interesse público. Se existem professores, se existem alunos e se existem encarregados de educação prejudicados por alegados problemas de gestão, por falta de cumprimento de protocolos de saúde, higiene e segurança, clima de intimidação e sentimento de opressão, estas instituições não podem ignorar isso, não podem escudar num alegado estatuto diplomático para se sentirem impunes e intocáveis; não podem, literalmente, dizer aos jornalistas: "Deixem-nos tratar da farra e, depois, tratamos deste assunto". Não podem querer farrar à grande e à francesa, quando também existem aqui makas à grande e à francesa.