"Apesar de os nossos países poderem colaborar com outras organizações, é importante que a CPLP defina um escopo de colaboração realista, de modo a não alargar o âmbito da sua acção, devendo sempre agir no estrito respeito das regras internas de funcionamento dos Estados que a integram", afirmou o chefe de Estado, citado pela Lusa.

Para João Lourenço, tem vindo a registar-se "um crescente interesse por parte de muitos países em aderir à CPLP como membros efetivos ou observadores", e, na opinião do PR, "se, por um lado, isso traduz o reconhecimento da importância e projecção da organização", por outro, merece "uma reflexão profunda" sobre o que é pretendido para o seu futuro.

João Lourenço, que começou por manifestar a "grande honra e satisfação" por participar pela primeira vez numa cimeira da CPLP, após a sua eleição em Setembro de 2017, mostrou a sua preocupação sobre as "tensões" que ainda persistem em alguns dos Estados-membros da CPLP, citando os casos da Guiné-Bissau, Moçambique e Brasil.

"Os passos dados com a nomeação de um primeiro-ministro de consenso e a constituição de um Governo inclusivo, assim como o anúncio de realização de eleições legislativas (...) vão contribuir para se atingir a estabilidade plena", afirmou.

O PR, citado pela Lusa, e referindo-se à insegurança no norte de Moçambique, alegadamente gerada por grupos radicais islâmicos, condenou "com veemência" os ataques que "provocam a perda de vidas humanas e afectam a consolidação do processo de normalização da vida política, económica e social" do país.

"Moçambique deve merecer a nossa atenção e solidariedade", devido aos "momentos de grande inquietação e insegurança com os ataques terroristas de grupos armados não identificados", disse.

Já sobre o Brasil, João Lourenço desejou que "consiga reencontrar os caminhos que o levem a reassumir o seu principal papel de uma das principais economias mundiais".

Cooperação, sim, mas de acordo com as especificidades de cada país

Quanto à facilitação da mobilidade dos cidadãos lusófonos, um dos temas que estará em debate nesta cimeira, a Lusa escreve que João Lourenço lembrou os vários acordos assinados para facilitar a concessão de vistos e passaportes, mas afirmou que "persistem ainda algumas dificuldades, devido sobretudo ao facto de cada país membro estar integrado em outras organizações regionais ou continentais, cada uma com regras diferentes".

Angola "tem interesse" no reforço da cooperação económica e que sejam criadas "sinergias que permitam dar resposta adequada às necessidades mais prementes dos povos", declarou, salientando que o facto de cada membro da CPLP estar inserido em diferentes zonas de integração regional permite "potenciar a cooperação económica, aproveitando as grandes potencialidades que cada um dos mercados oferece em benefício dos demais".

Segundo o Presidente, os países deverão desenvolver um "modelo de cooperação que se ajuste" às suas particularidades.

Cabo Verde assume, nesta cimeira, a presidência da CPLP por dois anos com o lema "Cultura, pessoas e oceanos".

João Lourenço vai ainda encontrar-se, à margem da cimeira, com o Presidente cabo-verdiano, Jorge Carlos Fonseca.

A cooperação económica e empresarial que beneficie todos os países da CPLP, segurança alimentar e nutricional, energia, turismo, ambiente, oceanos e plataformas continentais, cultura, educação e ciência, tecnologia e ensino superior, serão temas em cima da mesa de discussões.

Em cima da mesa deverá estar também a situação do Instituto Internacional de Língua Portuguesa (IILP), que conta com apenas dois funcionários efectivos e acumula uma dívida de quase um milhão de euros, superior a três orçamentos da instituição.

Marisa Mendonça, directora executiva do IILP, em declarações ao Jornal de Angola, falou na necessidade de uma operação vigorosa no IILP para que este não encerre, num momento em que a falta de recursos financeiros e humanos fazem parte do dia-a-dia da instituição.

"Peço que todos os países da CPLP se unam para dotar o IILP de outras condições. Com o pouco que tem já mostrou ter potencial de fazer melhor. Se os Estados membros assumirem realmente as responsabilidades a nível de recursos humanos e financeiros, teremos um IILP melhor", afirmou, acrescentando que se trata de uma instituição fundamental para a língua portuguesa, a quarta mais falada no mundo.

Também a propósito do risco que o IILP corre de fechar a qualquer momento por falta de meios, o primeiro-ministro de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva, em declarações à imprensa, assegurou que o ILP "não pode fechar" e prometeu que a presidência cabo-verdiana na CPLP vai envidar esforços para contrapor o actual quadro face à resistência dos Estados-membros honrarem as quotas.

A cimeira arrancou na manhã de terça-feira, no hotel Hilton, em Santa Maria, ilha do Sal, rodeada de medidas de segurança e com restrições de acesso dos jornalistas aos trabalhos da reunião.

"Há uma grande expectativa em relação a esta cimeira. Cabo Verde trabalhou durante meses para preparar esta reunião e acredito que, das conversas que já tive com os meus colegas nos bastidores, todas as condições estão reunidas e acredito que vamos ter uma boa cimeira", sublinhou.

Todos os ministros dos Negócios Estrangeiros da CPLP marcam presença na reunião, de onde deverá sair uma recomendação para os chefes de Estado e de Governo sobre os temas que irão marcar a presidência cabo-verdiana da comunidade.

A apresentação dos relatórios da presidência brasileira da organização, que agora termina, do secretariado executivo e do ILLP fazem também parte da agenda, em que consta igualmente um debate político entre os chefes das diplomacias lusófonas e intervenções dos observadores associados e consultivos, organizações internacionais e do presidente da Confederação Empresarial da CPLP, Salimo Abdula.

A CPLP foi criada a 17 de Julho de 1996 por Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe. Tem como objectivo aprofundar a amizade mútua e a cooperação entre os Estados membros.

Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste são os Estados-membros da CPLP.