Esta semana, na província do Bié tudo gira em torno de Jonas Savimbi, filho desta província, que abandonou em 1998, quando as forças governamentais o desalojaram nesta região, refugiando-se na província do Moxico, onde veio a morrer em 2002.

Na sexta-feira, em representação do Governo, o Inspector nacional da Saúde, Miguel dos Santos Oliveira, entregou os restos mortais à família e à direcção da UNITA, numa cerimónia presenciada pelo líder do "Galo Negro", Isaías Samakuva.

Miguel dos Santos Oliveira fez o acompanhamento de todo o processo das exéquias.

"Em representação do coordenador da comissão pela parte do Governo, o senhor Pedro Sebastião, faço a entrega dos restos mortais de Jonas Savimbi", disse.

Em nome da família, o filho de Jonas Savimbi, Durão de Monte Negro Sakaita Savimbi, agradeceu a presença de todos, considerando que com este acto, o seu pai já pode repousar.

"Não tenho palavras. Hoje é um dia de tristeza para a família", resumiu.

O presidente da UNITA, Isaías Samakuva, agradeceu também a presença de todos quantos puderam aparecer, destacando Jonas Savimbi como figura importante para Angola e África.

Relativamente ao impasse que se verificou e que acabou por alterar o programa inicial, Samakuva disse que o mais importante é que o corpo foi entregue à direcção da UNITA e à família, sublinhando que, numa hora de recolhimento como a actual, deve ser cultivada a unidade dos angolanos, e afirmando não pretender criar mais polémicas, uma vez que foi isso que aconteceu ao longo da semana.

"O que correu mal foi a falta de diálogo. Em resumo, é isso. O que precisamos é de dialogar. Se partirmos do ponto de vista de que quem está no poder manda e quem não está obedece, isso não vai acontecer nunca, porque quem está no poder está a representar o povo e se o povo fala o poder tem de escutar", afirmou.

"É preciso dialogar, ouvir o que os outros dizem, analisar se está correcto. E, se não está correcto, é preciso que se diga isso com fundamentos visíveis e lógicos e compreensíveis. E se está correcta também se aceita. Na nossa maneira de ver, faltou o diálogo, mas o que passou, passou. Mas não nos vamos reter mais no passado à procura de responsáveis", acrescentou.

"A nossa mensagem é de tranquilidade. Este período é de recolhimento, em que devemos cultivar e implementar tudo aquilo que exprime amor, coesão e unidade dos angolanos. Gostaríamos de dizer a todos os angolanos que o nosso compatriota, pai, irmão, mais velho, dirigente, tombou por causa de um conflito causado por não haver diálogo. Sempre que se procurou o diálogo havia sempre essa tendência de quem manda, de quem pensa que sabe tudo e de que é ele que deve dizer", afirmou o líder da UNITA.

"Os angolanos devem ter isso em conta porque o passado deixa-nos lições, que devem servir para o futuro, para o que se passou no passado não volte a acontecer", salientou, assinalando que Angola é um país rico que "pode dar prosperidade e felicidade aos seus filhos".

As pessoas juntam-se à beira das estradas para o último adeus a Savimbi

Durante o percurso de Luanda para Bié, foi notória a quantidade de pessoas concentradas ao lado da estrada em cada povoação, para o último adeus a Jonas Savimbi.

Em todas as povoações as bandeiras da UNITA foram colocadas a meia haste, cumprindo uma deliberação da direcção política que deu 30 dias de luto.

"Ele foi muito querido sobretudo nesta região centro e sul de Angola", afirma o soba Almeida José que encontrámos no município da Kibala, província do Kuanza Sul.

Segundo o soba, "tudo que o ex-líder da UNITA dizia sobre o País, no que diz respeito à corrupção hoje é visível".

"Nós duvidávamos, mas hoje estamos a constatar a realidade", disse o soba.

Tudo pronto em Lopitanga

A localidade de Lopitanga está a abarrotar de milhares de militantes, simpatizantes e amigos provenientes de todo o território nacional e também do estrangeiro.

Barracas de comes e bebes estão instaladas na terra natal de Savimbi.

A estrada que dá acesso à localidade está razoável, não obstante alguns buracos. "A própria direcção da UNITA tudo fez para que o acesso se tornasse possível", disse ao NJOnline o porta-voz da presidência da UNITA, Lourenço Bento.

O porta-voz da UNITA, Alcides Sakala, destacou a presença em massa dos militantes.

"Eles estão cá para dar o último Adeus ao doutor Savimbi, grande líder que tanto fez para o estabelecimento da democracia em Angola", disse ao NJOnline.

Segundo o político, o programa inicial, que previa uma passagem ao Huambo e a cidade do Kuito, foi alterado na última hora e os restos mortais vão directamente do Andula para a localidade de Lopitanga.

"O mais importante é que o corpo foi entregue à família e à direcção da UNITA. Isso é o mais importante", disse Sakala.

No Lopitanga estão mais de 120 jornalistas nacionais e estrangeiros para a cobertura da cerimónia de inumação.

Aqui, os profissionais deparam-se com problemas de comunicações. Os jornalistas são obrigados a abandonar a localidade de Lopitanga para despacharem os seus trabalhos na sede municipal de Andulo, enfrentando um percurso de mais de 25 quilómetros.

Entre as delegações provenientes do exterior, destaca-se a presença de João Soares, filho do ex-Presidente português, Mário Soares.

Ao NJOnline, João Soares destacou a figura de Jonas Savimbi, sublinhando que Angola perdeu um dos seus filhos mais queridos.

"Angola perdeu o seu filho mais querido, mas a UNITA vai continuar a lutar para o bem dos angolanos", resumiu, lamentando a ausência dos dirigentes do MPLA na cerimónia.