A reivindicação surge como um alerta ao Presidente da República, João Lourenço, que em Abril do ano passado recebeu em audiência as organizações juvenis, em que, entre várias preocupações apresentadas, se falou do "imperativo" de se aprovar a Lei da Juventude, bem como a criação de uma data em que todos os jovens vão se rever.

Os braços juvenis dos partidos da oposição e algumas organizações da sociedade civil consideram que, apesar de João Lourenço ter apresentado sinais de abertura, os órgãos responsáveis pela criação da lei, o Conselho Nacional da Juventude (CNJ) e o Ministério da Juventude e dos Desportos (MINJUD) "recusam-se em colocar em prática uma orientação que supomos de boa-fé por parte do Presidente da República, afirmam os jovens numa declaração enviada ao Novo Jornal.

Os jovens, que se recusam a comemorar o 14 de Abril, instam o MINJUD e o CNJ para tudo fazerem para que o assunto seja tratado com seriedade para que, quer a Lei da Juventude, quer a data da celebração consensual, façam parte do diploma que vai ser aprovado no VII Conselho Superior da Juventude, agendado para o mês de Julho na província da Huíla.

A Juventude Unida Revolucionária de Angola (JURA), que representa a UNITA, a

Juventude de Renovação Social (JURS), braço juvenil do PRS e o Movimento Estudantil de Angola (MEA), que dão rosto às reivindicações, recomendam que as discussões sobre o tema devem ser programadas, pois, garantem que não vão aceitar que o 14 de Abril seja outra vez celebra- do como o dia da juventude angolana.

"Não está correcto estarmos a celebrar uma data afecta ao patrono de uma organização política juvenil, pelo que demos a moratória de um ano, porque desde altura que começamos com as negociações com órgãos afectos à matéria, estou a referir- -me ao Ministério da Juventude e Desportos, assim como o CNJ", afirma o líder juvenil reiterando que até cá não há sinais visíveis de uma concordância.

Jovens mobilizados a não comemorar o 14 de Abril
Para o líder da JURS, Gaspar Aguiar Fernandes, jovens do PRS estão mobilizados a não comemorar o 14 de Abril até que se encontre uma data consensual. Os jovens do PRS sugerem o dia da fundação do CNJ como o ideal para a celebração do dia da Juventude.

"Queremos que as festividades de celebração ao dia da juventude seja uma data neutra, e, desde já, sempre tivemos proposta de uma data, que é o dia 4 de Outubro, dia da fundação do Conselho Nacional da Juventude. Acreditamos que há jovens apartidários que só não festejam estas datas por- que as suas religiões não os permitem.

Para além dos braços juvenis ligados aos partidos serem contra a data, várias outras organizações de jovens, sobretudo da sociedade civil, dizem não fazer qualquer sentido continuar a celebrar-se o 14 de Abril como data da juventude angolana.

Em Angola, tem sido recorrente, ano após ano, as organizações juvenis do país contestarem o 14 de Abril, uma vez que a data homenageia José Mendes de Carvalho, mais conhecido por Hoji-Ya-Henda, um comandante das Forças Armadas Po- pulares de libertação de Angola (FAPLA), que terá sido morto em combate daquela data em 1968, no Moxico, durante um ale- gado assalto ao quartel de Karipande, do exército colonial português.

«Não deve haver partido nem religião»

Quando só já faltam algumas semanas para a celebração do Dia da Juventude, alguns jovens salientaram que não se deve comemorar a data olhando para as questões partidárias e religiosas.

Segundo Chissolukombe, a reconciliação passa por encontrar "datas que conduzam a festejos colectivos em que as pessoas e movimentos se revêem, sentando-se à mesma mesa e pensando Angola".

Em relação à data, a organização juvenil da Juventude Unida Revolucionária de Angola (JURA) discorda do facto de ser comemorado no dia 14 de Abril, referindo que a mesma tinha de ser consagrada no dia 6 de Fevereiro por ser uma data em que culminou com a morte do Rei Mandume.

"Para nós, incluindo outras organizações juvenis, o 14 de Abril não representa uma data consensual. Por isso, achamos que devíamos encontrar uma data consensual que não representa nenhuma

convicção político-partidária ou credo religioso", diz Sebastião Salakiaco, membro do Comité Permanente da organização, citado pela DW.

Por isso, justifica Salakiaco, que "Primeiro porque morreu como jovem, de- pois, porque na altura em que ele morreu, a 6 de Fevereiro de 1917, os movimentos de libertação ainda não existiam. Para nós, é uma data consensual por representar um herói apartidário".

Por seu turno, a juventude da CASA-CE defende o dia 6 de Fevereiro para celebrar o Dia da Juventude Angolana - a data da morte do rei Mandume, que lutou contra a dominação colonial e também morreu muito jovem.