A par da corrupção, o novo bispo de Cabinda aponta o desemprego como um dos maiores problemas sociais do País.

"Temos um nível de desemprego altíssimo, que não se justifica, porque um país que está em reconstrução deve consumir mão-de-obra, e mão-de-obra jovem, mas não é o que se nota. O desemprego é um problema social muito grande, porque os jovens, formados dentro e fora do país, estão sem muitas alternativas".

Outro "problema gritante" em Angola, diz o bispo na mesma entrevista, "tem a ver com a educação. Há necessidade de um sistema educativo mais eficaz e mais adequado às necessidades reais do país. É urgente para não sermos um país atrasado, porque a educação é a chave do progresso".

Sobre o sector da Saúde, o bispo declara que Angola só será "um país bom quando os ministros, o próprio chefe de Estado, todas as pessoas fizerem, ou puderem fazer o seu tratamento médico em qualquer hospital público. Enquanto isso não acontecer não há qualidade de saúde suficiente".

Na opinião de Belmiro Chissengueti, "o Governo está a tentar dar resposta, mas não basta ter vontade, é preciso atacar as causas do problema".

Também sobre a rede viária, o bispo, que assume a diocese de Cabinda a 7 de Outubro, faz duras críticas, explicando que tem estado na Comissão de Justiça e Paz da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé, participou na vigilância do orçamento geral de Estado, "para ver se aquilo que era orçamentado era executado".

"Na verdade, algumas coisas não foram executadas, outras foram, mas mal. Por exemplo a rede viária que foi reparada há menos de 10 anos está toda danificada. Há muito para fazer. Ao nível do que chamamos a integridade da criação, nem sempre é suficientemente levada em consideração. Nas zonas de exploração diamantífera e de exploração petrolífera há problemas ambientais sérios", explica o bispo em entrevista à Renascença.

Segundo Belmiro Chissengueti, há um "tratamento de respeito e consideração" entre a igreja e o Governo angolano, e "uma relação de cooperação e de complementaridade no trabalho"

"Ainda há dias saiu uma comunicação sobre as autarquias locais (do CEAST), o Estado defende um gradualismo geográfico, a Igreja defende que tem que haver autarquias para todo o país, porque há grandes assimetrias regionais, e a dimensão que é pensada neste momento não vai ajudar em nada. O grande mal de um Estado centralizado é, por um lado, a burocracia, por outro lado a corrupção, e por ainda uma dependência excessiva, que torna aquele que administra localmente alguém que está sempre em atitude de "gratidão", entre aspas, para com quem lhe fez um favor, portanto. não tem a liberdade de corrigir o que está mal e melhorar o que está bom, segundo o slogan do partido no poder".

"Um autarca tem mais poderes, é mais vigiado, tem um conselho fiscal, tem o parlamento autárquico, que não é um simples instrumento de consulta, mas é um instrumento de governação. E penso que Angola precisa disso. Não faz sentido que um município para tapar um buraco tenha de esperar ordem do governo central".

O bispo, que defende a descentralização do poder, diz que essa deve ser uma prioridade do Governo.

"É tempo de fazer andar as coisas, para não atrasar ainda mais o desenvolvimento do país. E a Igreja já manifestou publicamente a sua visão de fazer com que as autarquias sejam para todo o país. Dizer que são precisos mais 10 ou 15 anos é uma brincadeira política que é preciso saber ultrapassar, tanto mais que está provada a falência do Estado excessivamente centralizado, com todas as consequências sociais que hoje Angola vive", declara.

A corrupção, apontada como o maior problema existente no País, é, para o novo bispo de Cabinda, "a causa maior das dificuldades que hoje se vivem em Angola, tanto a nível do desemprego, da crise social, da educação, da saúde, e mesmo do acesso a bens e serviços".

"Há dinheiro a mais que saiu do país, e agora foi aprovada uma lei para o repatriamento de capitais, mas não sei se vai dar em alguma coisa. Vamos ver para crer. O eixo da corrupção é tão poderoso, tão diversificado e tão deslocalizado, que no fundo se protege. Grandes fortunas de África, da Ásia, do Médio Oriente e da América Latina, habitam em bancos ocidentais, a produzirem juros e a enriquecerem aqueles que já têm muito, deixando o resto na indigência...É preciso atacar este mal. Já começou, mas é uma luta que vai levar muitos anos", expõe.