Dos consumidores particulares aos proprietários das unidades industriais, todos esperam que o Executivo reavalie a sua posição. Consideram que os aumentos vão agravar as suas condições de vida e criticam o facto de não terem sido avisados previamente sobre as novas tarifas.

"A população deveria ser consultada antes das subidas dos preços, principalmente quando se trata da energia electrica", observa Afonso António, que mora no bairro do Palanca.

Nos mercados, lojas e táxis, a conversa gira à volta do novo regime tarifário de energia electrica.

Matambo João, que mora no Palanca, contou ao NJOline que paga mensalmente mais de 4.000 Kwanzas por um "mau serviço".

"A ENDE presta um mau serviço. Como é que eu vou saber o meu consumo mensal numa casa onde eles não instalaram o contador?", interrogou, acusando a empresa de extorquir os consumidores.

Com a subida da energia, segundo ele, as coisas vão complicar-se ainda mais.

Matambo João defende a implantação do sistema de energia eléctrica pré-pago em toda a cidade de Luanda.

"Evita roubos, mas os homens da ENDE não querem esses serviços para melhor subtraírem o dinheiro da população nas casas onde não há contadores, com facturas inventadas", acusou.

Gabriel Dombaxi, farmacêutico de 35 anos, considera que a subida de preços "sufoca", já que representa um maior custo de vida para as pessoas.

"Depois da entrada em vigor do novo tarifário vamos ver as primeiras facturas de cobrança, mas acredito que não será fácil para as nossas vidas", referiu.

Para o marceneiro conhecido como mestre Alex, que mora no bairro Popular, esta notícia surpreendeu toda a gente, já que o actual Governo tem vindo a prometer "aliviar" a vida dos angolanos.

"Pago mensalmente 11.000 Kz pela energia eléctrica. Eu e os meus oito trabalhadores estamos aflitos com a medida", lamentou.

O jovem Artur Pecamena, que gere uma pequena recauchutagem, está inconformado com a medida do Executivo.

"Já tenho dificuldades para fazer o pagamento dos salários dos meus dois trabalhadores, agora, com esta alteração do tarifário da energia, não sei como vou resolver este problema", disse Artur Pecamena, que paga mensalmente 6.000.00 Kwanzas.

Almeida de Castro, proprietário de 12 câmaras frigoríficas que conservam frescos, tem um Posto de Transformação de Energia (PT) e já teme a medida, pedindo a revisão da decisão do Governo.

"Eu pago 50.000 Kwanzas mensalmente. Imagine com a subida da energia onde vou parar", referiu Almeida de Castro, que pondera reduzir câmaras caso a situação se agrave.

Oposição junta-se à população nas críticas à medida do Governo

A UNITA considera que o novo regime tarifário de energia eléctrica "vai seguramente agravar a vida dos angolanos, atolada numa crise económica sem precedentes".

"É uma situação que vai certamente dificultar, encarecendo ainda mais a vida das famílias angolanas, cujo rendimento mensal é irrisório", disse ao NJOnline o porta-voz do Galo Negro, Alcides Sakala.

De acordo com Sakala, este não é o momento ideal para a entrada em vigor do novo tarifário de energia eléctrica, já que os salários que o Governo e algumas empresas privadas pagam não dignificam os funcionários.

"O povo está farto de sofrimento, o Executivo deveria rever esta situação", referiu o porta-voz da UNITA.

Para Sakala, o novo regime tarifário de energia elétrica é inaceitável e coloca em risco muita coisa, mas reforçou que o seu partido está analisar seriamente o assunto.

O membro do colégio presidencial da CASA-CE, Manuel Fernandes, também está preocupado com a entrada em vigor do novo tarifário de energia eléctrica.

"Lamento bastante, os consumidores vão começar a pagar uma nova taxa de electricidade, num País onde os salários dos trabalhadores são baixos. Espero que o Executivo repense a medida", comentou o parlamentar.

Para o mesmo deputado, a energia eléctrica é um dos principais insumos da indústria e as empresas não têm como desligar as suas máquinas, daí a necessidade de repensar a medida.

Quem também está apreensivo com a situação é o presidente da FNLA, Lucas Ngonda, que defende uma reflexão sobre o novo regime tarifário de energia eléctrica.

"Neste momento os angolanos enfrentam vários problemas. Com a entrada em vigor do novo regime tarifário de energia eléctrica a situação vai inspirar ainda mais cuidados no seio das famílias já pobres", frisou.

De acordo com o presidente da FNLA, a medida de reajuste da energia é um problema a mais para a indústria, que já está sofrer com a desaceleração da economia.

"As pequenas indústrias do nosso País têm muitos problemas, agora com o novo regime tarifário de energia eléctrica, muitos trabalhadores nestas fábricas poderão ser despedidos, o que é mau para o País", sustentou.

O membro do PRS, António José, lembrou que com o antigo regime tarifário de energia os funcionários da ENDE faziam "trinta por uma linha", afirmando que agora a situação vai agravar-se.

"Nos bairros, os funcionários da ENDE fazem cobranças ilegais, agora com o novo regime a situação vai piorar", acrescentou.

Nem todos contra

Mas nem todos estão contra a medida do Governo. É caso do comerciante Domingos Savata, que defende que a nova tarifa vai reforçar os cofres do Estado para melhor resolver os problemas da população.

"As pessoas habituaram-se a não pagar energia eléctrica, agora que o Executivo tomou medidas estão a reclamar", replicou Domingos Savata, lamentando que em várias residências as pessoas deixam lâmpadas ligadas todos os dias.

Para este comerciante, com a subida da energia, o Governo deve encontrar outros mecanismos para não atormentar muito a vida das populações.

"No caso dos que trabalham, é necessário um aumento conforme aos seus ordenados. Os que não trabalham, o Governo deve ajudar o sector privado para a criação de mais postos de trabalho", sugeriu.

Opinião idêntica tem o mecânico Domingos Zombo. Segundo este, a situação ainda vai agravar-se com a entrada em vigor do IVA, já que os angolanos não estão habituados a pagar impostos.

"Para haver melhorias é preciso sacrifícios. Vamos esperar para ver como é que estas políticas do Executivo vão resultar", referiu, salientando que na administração anterior as pessoas ficaram relaxadas de mais e não leram os sinais dos tempos.

O novo regime tarifário de energia eléctrica começou a ser praticado esta segunda-feira-feira, 15. De acordo com o Ministério das Finanças, esta actualização dos tarifários dos serviços de electricidade decorre de uma medida estrutural de gestão macroeconómica, que passa por garantir que os subsídios beneficiem efectivamente os segmentos mais vulneráveis da população, contrariamente ao que vinha sucedendo até aqui.

"Neste sentido, as novas tarifas introduzem mecanismos de protecção dos consumidores com menores rendimentos, para além de outras medidas de protecção social, que estão a ser adoptadas pelo Executivo", lê-se na nota.

O novo tarifário para consumidores de categoria social - clientes com capacidade reduzida em termos de consumo - vai manter-se a 2,46 kwanzas o quilowatt, enquanto que para os clientes com consumo abaixo de 200 quilowatts o valor passa de três kwanzas para 6,41 kwanzas.

O reajuste foi feito igualmente na "categoria doméstica geral", actualmente designada "categoria doméstica monofásica", onde se encontram integrados a maioria dos consumidores de electricidade do país, passando dos 6,53 kwanzas para 10,89 kwanzas, representando um aumento de 66 por cento.

Já para os clientes de "categoria doméstica especial", agora designados por "categoria doméstica trifásica", a tarifa passa dos 7,05 para os 14,74 kwanzas.