Sun Suhua, de nacionalidade chinesa, que trabalha em Angola há 12 anos, disse ao NJOnline que está a ser vítima de perseguição e abuso de poder por parte do empresário angolano, Fernando Santos, que afirma ser o novo dono da empresa "Geovalor LDA".

Este chinês é gestor nesta empresa desde 2017 através de uma procuração emitida pelo legítimo proprietário, de nome Fernando Andrade Cabral, de nacionalidade angolana.

Segundo Sun Suhua, a procuração passada pelo proprietário Fernando Andrade Cabral conferia-lhe todos os poderes de gestão e exploração da pedreira, num período de cinco anos, de acordo com a parceria que ambos estabeleceram e cujo prazo termina apenas em 2021.

O cidadão chinês, que se sente injustiçado, contou que tem sido perseguido pelo empresário Fernando Santos desde 2018, argumentando que o mesmo quer ficar com a zona de exploração de granito a todo custo, por ser angolano.

Segundo o empresário chinês, no seguimento do acordo, em 2017, com o proprietário da empresa, investiu cerca de cinco milhões de dólares na mina, e o empresário angolano, Fernando Cabral, apenas entrou com a documentação da pedreira.

"Da cooperação feita, ficou acordado que o senhor Fernando Andrade Cabral só poderia desfazer o contrato em 2021. Porque ficou combinado que eu tinha de lhe pagar, mensalmente, três mil dólares até terminar o contrato, e, até ao momento, tenho estado a cumprir com o combinado e a pagar todos os impostos ao Governo", contou ainda Suhua.

Surpreendentemente, refere o cidadão chinês, em 2018 apareceu na exploração o empresário angolano Fernando Santos a dizer que era o novo dono da empresa Geovalor LDA, e que a havia comprado a Fernando Cabral, mas sem nenhuma documentação passada por este.

Em Abril de 2018, dois meses depois de Fernando Santos ter supostamente comprado a empresa, Sun Suhua continuou a cumprir com o acordo de parceria que tem com Fernando Andrade Cabral, depositando os valores correspondentes ao acordo (os três mil dólares mensais) e que nunca recebeu informação de que a pedreira tinha sido vendida a outro cidadão.

Da lá para cá, conta o empresário chinês, sempre foi alvo de inspecção constante na pedreira, relatando também casos de ameaças e de abusos de autoridade contra funcionários da empresa, praticados por três agentes policiais, acompanhados por Fernando Santos.

Para a sua surpresa, refere Sun Suhua, no dia 11 de Setembro, o empresário angolano, Fernando Santos, enviou para o local de exploração de granitos homens armados da sua empresa de segurança privada, acompanhados por elementos do SIC-local, proibindo a entrada dos funcionários, incluindo ao empresário chinês.

"Fui para o comando de polícia local e informei sobre a situação, infelizmente nada fizeram, apenas me disseram para não mais regressar à pedreira", lamentou-se.

Sun Suhua explicou que ficou a saber no SIC, no município dos Gambos, que a proibição tinha a ver com o não pagamento dos impostos ao Estado e ao cidadão Fernando Andrade Cabral, informação que, segundo ele, é mentira.

"Não é verdade isso. Tenho todos os comprovativos de pagamentos de imposto ao Estado e ao senhor Fernando Andrade Cabral. Nunca recebi nenhuma notificação de entidades do Estado a dizer que tenho dívidas, muito menos de Fernando Andrade Cabral. Não entendo como devo quando andei a pagar este tempo todo", realçou.

Sun Suhua disse ainda que nunca recebeu nenhum documento legal do SIC ou da Procuradoria-Geral da República (PGR) a informar que está proibido de continuar a explorar a pedreira.

Sobre este assunto, o NJOnline contactou o porta-voz do Serviço de Investigação Criminal na Província da Huíla, Sebastião Vika, tendo este informado que o SIC não tem competências para encerrar a exploração.

"Trata-se de um litígio entre um cidadão angolano e um chinês, e um deles (Fernando Santos) decidiu fazer a participação ao SIC, que já instaurou um processo que remeteu para a PGR", explicou.

Segundo Sebastião Vika, não é correcto que num acto de litígio uma parte continue a explorar , por isso, justifica, o procedimento que a PGR aplicou é para salvaguardar os interesses das partes.

O porta-voz do Serviço de Investigação Criminal na Província da Huíla garantiu que o processo agora é da esfera do tribunal que deverá aferir a veracidade das versões das partes.

A versão do empresário angolano Fernando Santos

Em reacção, após ter sido contacto pelo NJOnline a partir do exterior do País, Fernando Santos garantiu ser ele, agora, o novo dono da exploração de granito, pertencente à empresa "Geovalor LDA".

"O senhor Sun Suhua nunca pagou nada ao antigo proprietário da Geovalor e andou a brincar com o Fernando Andrade Cabral. Geriu a empresa mais de um ano e não pagou impostos nem segurança social aos funcionários, estava a levar a "Geovalor" a um conjunto de incumprimentos cuja responsabilidade seria do Fernando Andrade Cabral, enquanto dono da empresa", referiu.

De acordo com Fernando Santos, o empresário chinês nunca depositou um "centavo" nas contas da empresa, apesar de ter procuração para gerir a conta bancária da mesma.

Como Fernando Andrade Cabral não poderia continuar nessa situação,explica Fernando Santos, o mesmo decidiu então vender a empresa "Geovalor LDA".

"Foi assim que ele (Fernando Andrade Cabral) me propôs a venda da Geovalor. E eu não comprei a empresa sem antes falar com Sun Suhua", aponta.

Fernando Santos disse também ter anulado, junto do notário, a procuração que o investidor chinês fez com o cidadão Fernando Andrade Cabral, por ser o novo dono da empresa.

"Fiz uma queixa ao SIC, por ocupação ilegal do meu espaço. As autoridades fizeram o que tem de ser feito", realçou.

Fernando Santos diz também que a decisão da proibição da exploração na mina veio do SIC - Huíla e confirmou ter colocado no local seguranças para protegeram a zona e não para impedirem a entrada do senhor Sun Suhua.

O NJOnline tentou o contacto com Fernando Andrade Cabral mas este encontra-se incomunicável até ao momento.