"O processo foi anulado porque devíamos ter passado pelo Procurador da República. Agora vamos ter de recomeçar tudo de novo", explicou à agência Lusa Cheya Savimbi, lamentando a decisão do Tribunal de Grande Instância de Nanterre, arredores de Paris onde correu a acção.

Três dos filhos do falecido líder da UNITA avançaram com um processo judicial por difamação contra a filial francesa da norte-americana Activision Blizzard, que edita o jogo Call of Duty.

A família argumentava que Jonas Savimbi surge como "um bárbaro" na edição de 2012 do jogo, Black Ops II, exigindo uma indemnização de um milhão de euros (1,1 milhões de dólares) à filial francesa da editora e a retirada do mercado de Black Ops II.

Agora, a advogada dos filhos de Savimbi, Carole Enfert, disse considerar avançar com um processo nos Estados Unidos "se os procedimentos de justiça forem mais simples".

"Estamos naturalmente decepcionados. O Direito francês está realmente atrasado na área das tecnologias. A legislação tem de evoluir", disse a advogada.

Cheya Savimbi, residente em Paris, reiterou que ele e os irmãos estão "naturalmente decepcionados", lembrando que recorreram à justiça francesa em 2013 e prometendo que vão "recomeçar tudo de novo e pedir exactamente a mesma coisa", uma vez que "nada mudou".

Mostrou-se "confiante em que as coisas venham a ser clarificadas" e prometeu "continuar pela honra do pai", mas admitiu frustração.

"Este tipo de processo é sempre longo, mas estamos surpreendidos porque o juiz nem sequer avaliou o nosso desejo, só considerou que estávamos mal dirigidos. Ou seja, avaliou a forma e não o conteúdo", continuou.

Os filhos de Savimbi, moradores na região de Paris, tomaram conhecimento da utilização da imagem do pai no jogo três anos após a saída de Black Ops II.

O jogo utiliza a imagem de Savimbi numa missão n a província do Kuando Kubango, em 1986, no auge da guerra civil, ajudando o herói Alex Mason a resgatar um agente da CIA, numa alusão à aliança da UNITA com os Estados Unidos, durante a Guerra Fria.

"As imagens que aparecem no jogo estão muito longe do que foi o meu pai. Temos filhos que têm esse nome e os amigos deles jogam esse jogo. É um jogo extremamente violento em que o avô deles aparece como uma pessoa brutal e um assassino. Estamos a pedir que corrijam isso", justificou Cheya Savimbi.

Lançado em 2003, Call of Duty também já utilizou a imagem de Fidel Castro, de John F. Kennedy e do ex-ditador do Panamá Manuel Noriega, o qual processou a editora por atentar contra a sua reputação, mas a justiça norte-americana rejeitou a queixa, em 2014, em nome da liberdade de expressão.

Jonas Savimbi foi morto em 2002 por forças governamentais, levando ao fim da guerra civil no país, depois de quase três décadas de conflito.