Passavam poucos minutos depois das 21h da última sexta-feira, 17, quando Lucinda António, acompanhada do marido Francisco Paciente, e da sogra, e já em trabalho de parto, se deslocou ao Centro Materno-infantil do Benfica, na província de Luanda.

"Quando chegámos ao hospital, encontrámos as portas fechadas, o guiché de informação estava sem ninguém", relata Francisco Paciente, em declarações ao Novo Jornal Online.

Em busca de assistência médica para a mulher, Francisco andou às voltas até conseguir forçar o portão para entrar.

Já no interior encontrou dois seguranças a dormir."Acordei-os e indicaram-me a secção onde podia encontrar uma enfermeira. Posto na sala de parto, fui atendido por uma parteira que pediu para trazer a paciente", conta o homem, que, de regresso ao carro, deparou-se já com o filho.

"A minha esposa havia dado a luz a um menino".

O parto foi realizado na viatura com a ajuda da avó do bebé, enquanto os seguranças e enfermeiros da unidade de Saúde dormiam no interior, diz Francisco, que fotografou a situação para poder fundamentar a queixa, entretanto apresentada à direcção do Centro.

Para além de alegar que o estabelecimento de Saúde falhou na sua obrigação de prestar assistência médica, Francisco aponta o dedo à parteira que estava de serviço. Como o parto já tinha acontecido, a mesma acabou por se deslocar à viatura, entretanto estacionada à porta da sala de parto, reconstitui o homem.

"Ela começou a gritar com a minha mãe dizendo: "Pega bem a senhora, senão vai ter hemorragia", recorda o marido de Lucinda António, lamentando que em vez de ter tentado controlar a situação, a profissional ainda tenha induzido em todos maior inquietação.

"Como pai fiquei muito preocupado com o comportamento dela e perguntei: "Porque é que a senhora nos está a tratar dessa forma, uma vez que a minha mulher já deu à luz no carro e sem assistência médica?".

Segundo Francisco, a parteira limitou-se a responder que não é obrigada a esperar por pacientes que dão à luz à porta do hospital.

Para completar o "pesadelo", já por volta das 5h de sábado, Francisco diz ter sido "obrigado" a deslocar-se a uma farmácia para aviar uma receita para compra de sistema de soro e ampolas de ocitocina.

Depois da entrega dos medicamentos ao centro, Lucinda António teve alta sem receber qualquer assistência - ou seja os fármacos não lhe foram administrados -, garante o marido, que diz que ainda teve de arcar com uma nova receita para outra medicação.

Centro abriu processo disciplinar

O caso deu origem a uma queixa, apresentada na passada segunda-feira, junto da Direcção do Centro de Saúde.

Rosa Flora Isaías, administradora do Centro Materno-Infantil do Benfica, declarou ao Novo Jornal Online que está bastante indignada com a situação, que diz ser da responsabilidade da equipa que estava de serviço.

A gestora garantiu ainda que, na segunda-feira, ainda não tinha recebido nenhuma comunicação da equipa a reportar a ocorrência envolvendo o casal Francisco e Lucinda.

De acordo com Rosa Flora Isaías, a comissão disciplinar reuniu nessa manhã com o queixoso e a equipa que esteve de serviço na sexta-feira à noite.

"As funcionárias pediram desculpas ao senhor Francisco e à sua família, pelo ocorrido naquela noite, mas serão punidas com um processo disciplinar que já foi instaurado", explicou.

Rosa Flora Isaías disse ainda que já reportou o caso à direcção municipal de Saúde de Talatona, que deu orientações para que os envolvidos sejam disciplinarmente punidos.