Com o regresso, ainda frágil, mas co menos abrasividade que nas primeiras semanas de Junho, da estabilidade ao Médio Oriente, onde apenas a frente de guerra de Israel em Gaza permanece incandescente, o barril de crude não parece "querer" fazer a vontade aos aflitos.

E os aflitos são os países exportadores cujas economias, como a angolana, ainda dependem substancialmente das receitas petrolíferas, ainda por cima, no cado nacional, com o OGE 2025 elaborado com o barril nos 70 USD como valor médio estimado para o ano.

O barril de Brent, a referência principal para as exportações nacionais, estava, perto das 11:50 desta segunda-feira, 30, hora de Luanda, a valer 67,5 USD, menos 0,32% que no fecho de sexta-feira, 27, que já tinha sido um semana periclitante para os mercados.

Além da diluição da instabilidade no Médio Oriente, os mercados estão a reflectir ainda a persistência da OPEP+ em manter o calendário da reposição da produção, aumentando a produção, a um ritmo mensal de 411 mbpd, num fio de tempo que conduz inapelavelmente a uma economia global menos robusta, logo com menos apetite por energia fóssil.

Os dois gigantes da economia mundial, EUA e China, estão numa fase em que já viram melhores dias.

A economia norte-americana pressionada pela inflação e a questão por resolver decorrente do braço-de-ferro entre o Presidente Donald Trump e o chefe da Reserva Federal, Jerome Powell, que resiste a baixar as taxas de juro directoras.

Já da China chegam más notícias com a sua indústria exportadora mostra estar a patinar há largos meses, o que sempre se repercute no consumo de petróleo pela China, que é só e apenas o maior consumidor do mundo da matéria-prima.

Este é parte graúda do contexto internacional que leva, como a Reuters nota, ao pessimismo plasmado no novo Outlook para a economia mundial do FMI, com sucessivas reduções em baixa para o crescimento global tanto para 2025 como para 2026.

Luanda não perde de vista o sobe e desce dos mercados

O actual cenário internacional tende a manter os preços abaixo do valor estimado no OGE 2025, que é de 70 USD, embora sem que seja possível perspectivar o que será o advir breve devido aos imponderáveis no conflito israelo-iraniano, onde o cessar-fogo vigente tem fragilidades evidentes e pode ser furado a qualquer momento.

Essa a razão pela qual Angola é um dos países mais atentos a estas oscilações, devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que atravessa, especialmente nas dimensões inflacionista e cambial, onde o esperado superavit (preço acima dos 70 USD) poderia ser importante para contrariar.

Isto, porque o crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo, que pode ser obrigado em breve a avançar para uma revisão do OGE.

O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,1 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.

O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.