Dez horas depois da meia noite, o período definido para o início do cadastramento de quem não tem uma habitação, prevalecia a incerteza em zonas das cidades de Benguela e do Lobito, sobressaindo o grito dos cidadãos excluídos.
"Até aqui, quase 12 horas depois, só temos a dizer que ainda não fomos registados, estamos à espera", disse, na área dos "Trezentos", arredores do Lobito, o jovem Frederico, acrescentado que as famílias até chegaram a estar reunidas para facilitar a tarefa dos agentes, mas cada uma foi abandonando a concentração à medida da passagem das horas.
"Fomos dormir, agora estamos aqui à espera deles", afirmou José, outro morador da zona.
Em plena cidade de Benguela, tal como verificou o NJ, gente que tem na rua a sua habitação e o seu ganha-pão dizia aguardar pelo recenseamento mesmo depois do momento previsto.
Em instalações da Universidade Katyavala Bwila, centenas de agentes censitários aguardavam por tablets e indicações relativas às suas zonas de actuação.
"Estamos aqui há bastante tempo, ninguém diz nada, estamos à espera do INE [Instituto Nacional de Estatística]. Caso contrário ... não sabemos", assinalou Ezequiel, ao explicar que estavam concentradas cinco turmas, sendo que cada uma é composta por 40 a 45 recenseadores.
No Lobito, o cenário era similar: jovens de um lado para outro, à procura de explicações das autoridades, mormente em relação aos meios informáticos.
O director provincial do INE, José Maria, chegou a garantir que Benguela tinha as condições "a cem por cento de prontidão", numa alusão, sobretudo, aos 2.060 tablets disponíveis.
Ciente de que se trata de uma quantidade reduzida face aos agentes em actividade - mais de cinco mil - esclareceu que estava a caminho de Benguela, saído de Luanda, um camião da Casa Militar da Presidência com a outra parte do equipamento necessário.
"Ao contrário do Censo de 2014, o processo será totalmente digitalizado, não será analógico", indicou José Maria, acrescentando que "temos meios de transporte, soluções tecnológicas e toda logística inerente".
O governador de Benguela, Luís Nunes, que recebeu hoje, no Palácio da Praia Morena, um recenseador, disse, ontem, que existiam apenas "alguns problemas banais".
Segundo o governante, algo insuficiente para atrapalhar um processo de contagem que "vai permitir ao Executivo definir melhor as políticas públicas para o bem-estar da população".
O Censo Geral de 2014 revelou a existência de 2,5 milhões de habitantes na província de Benguela.