Ao fim de 22 anos no poder, Jammeh, que chegou a Presidente da Gâmbia através de um golpe de Estado na década de 1990, e ganhou as eleições seguintes com muitas dúvidas sobre a sua transparência, criou esta nova crise no país com cerca de 1,7 milhões de habitantes, ao ter, primeiro admitido a derrota e, depois, voltado com a palavra atrás.

Com o fim constitucional do mandato ocorrido hoje, e também fim do prazo dado pela CEDEAO para que saísse do poder, Jammeh enfrenta agora a ameaça de uma intervenção militar, com o Senegal na linha da frente das exigências de restabelecimento da normalidade constitucional.

A Gâmbia é o mais pequeno país da África Ocidental, encravado no Sul do Senegal.

Durante o período entre as eleições, 01 de Dezembro e o final do prazo dado pela CEDEAO, que confere com o último dia do mandato legal de Jammeh, os esforços diplomáticos sucederam-se, desde sucessivas reuniões em Banjul, capital do país, até à aprovação pelo Parlamento da Nigéria de uma resolução que abre as portas a um exílio dourado.

Até ao momento, Yahya Jammeh não deu quaisquer sinais de poder aceitar as propostas amigáveis, tendo mesmo decretado o Estado de Emergência no país, posicionando as suas tropas ao longo das estradas e nas fronteiras com o Senegal, de onde, previsivelmente, chegara a "invasão" externa para o retirar do poder.

A actual situação na Gâmbia tem algumas semelhanças com o que aconteceu na Guiné-Bissau em 1998, quando o Senegal e a Guiné-Conacri enviaram as suas tropas para defender o então Presidente "Nino" Vieira, durante um golpe militar, dando início a uma violenta guerra de quase um ano, conhecida pelo conflito "07 de Junho" e que terminou apenas em Maio de 1999.

Durante este conflito, que chegou ao fim com o abandono do poder de "Nino" Vieira, a 10 de Maio de 1999, as tropas do Senegal e de Conacri sofreram pesadas baixas e acabaram por se retirar debaixo de uma profunda humilhação ao serem derrotadas por um pequeno e desorganizado "exército" rebelde, tendo resultado ainda em muitas centenas de mortos entre a população civil.

Perante este cenário de eminente intervenção militar externa, a Gâmbia assiste por estes dias a uma debanda da população para os países vizinhos, nomeadamente o Senegal e a Guiné-Bissau, havendo relatos das agências internacionais de que, entre os que estão a sair do país, encontram-se altos quadros do Estado e governantes que pediram a demissão justificando-a com a resistência antidemocrática de Jammeh a abandonar o poder depois de derrotado em eleições.

As agências relatam ainda que as estradas da Gâmbia, país que é uma estreita língua de terra nas margens do rio com o mesmo nome, não estão tão patrulhadas por militares como no início desta crise, havendo apenas alguns postos de controlo, nomeadamente à entrada da cidade de Banjul, cujas ruas estão praticamente desertas à espera do epílogo desta transição complexa de poder no país.

Também as dezenas de "resorts" turísticos, principal fonte de receitas do país, estão totalmente desertos, tendo. Nos últimos dias, ocorrido uma saída em massa de estrangeiros.

Entretanto, Adama Barroe, o Presidente eleito, já fez saber que vai fazer o juramento da tomada de posse na embaixada gambiana em Dacar, capital do Senegal, onde se encontra sob protecção de Macky Sall, o Chefe de Estado senegalês.