O Governo de Adama Barrow, reeleito recentemente para um segundo mandato, anunciou que tinha abortado mais uma tentativa (ver relacionados em baixo, nesta página) de alteração à ordem constitucional no pequeno país da África Ocidental encravado no sul do Senegal.

Segundo as agências de notícias, foram detidos vários militares, na terça-feira, porque, alegadamente, procuravam destronar Barrow.

A reacção do actual presidente da União Africana, o Presidente senegalês Macky Sall, no entanto, indica que se tratou, efectivamente, de um "coup" abortado.

"Condeno com vigor e de forma inequívoca a tentativa de desestabilização do Governo gambiano e do país", apontou Sall, acrescentando que a organização pan-africana não aceita "de forma alguma" quaisquer tentativas de subversão da ordem constitucional", como, de resto, é política da UA plasmada na Carta Áfricana, nos capítulos referentes a estes fenómenos que se multiplicam por toda a África ocidental e Central nos últimos anos, fazendo lembrar o penoso período de décadas passadas, especialmente nos idos de 1980 e 1990.

O mesmo caminho foi feito pela CEDEAO, com igual veemente condenação da investida agora abortada em Banjul.

Aparentemente, o golpe tentado ruiu por causa da acção preventiva das suas forças de segurança que, segundo o Governo de Adama Barrow, têm natureza secreta, apontando o dedo a alguns, sem especificar, militares das forças armadas gambianas que estavam a movimentar-se nesse sentido na passada terça-feira.

Depois de golpes, alguns conduzidos com sucesso, no passado recente, no Mali, Burquina Faso ou na Guiné Conacry, no Sudão ou no Níger, outros sem sucesso, como na Guiné-Bissau ou na República Centro-Africana, esta é a última tentativa de alteração no poder de um país onde o Governo foi legitimado em eleições consideradas livres e democráticas.

A Gâmbia, um pequeno país que só desde 2017 tem um regime democrático, é considerado frágil, depois de 20 anos de ditadura de Yahya Jammeh.

A Gâmbia é presidida por Adama Barrow desde dezembro de 2016, quando derrotou nas urnas o ex-presidente Yahya Jammeh, que tinha governado o país com mão de ferro desde 1994, num regime caraterizado por graves violações dos direitos humanos, incluindo desaparecimentos forçados, tortura e execuções extrajudiciais de estudantes, ativistas, opositores e funcionários públicos.

Em 2018, Barrow, lembra a Lusa, lançou a Comissão de Verdade, Reconciliação e Reparação, que investigou estes abusos durante três anos e em finais de novembro de 2021 apresentou as suas conclusões finais ao Presidente, apelando à acusação dos responsáveis pelos crimes cometidos durante o regime de Jammeh.