E mais uma vez, estes milhões de documentos que expõem os esquemas a que recorrem pessoas e empresas em todo o mundo para escaparem ao pagamento de impostos, com passagens a tocar, muitas vezes, na ilegalidade, mas nem sempre a passar esse limite, foram revelados, tal como tinha sido com os famosos Panama Papers, pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (CIJI).
O lote de documentos que comprometem figuras como as estrelas da música pop Madonna e Bono, dos U2, ou a rainha de Inglaterra, Isabel II, ou os esquemas entre o Presidente norte-americano, Donald Trump, e os seus "amigos" russos, e ainda o pacato e cordial primeiro-ministro do Canada, Justin Trudeau, que tem um conselheiro que movimento muitos milhões pelos offshores dos paraísos fiscais ou o gigante Apple que vê expostos os seus truques para escapar às suas obrigações fiscais.
Esta investigação, que resulta em grande medida de mais uma fuga de mais de 13 milhões de ficheiros de uma firma de advogados, a Appleby, que tinha nos seus arquivos os "truques" de milhares de pessoas e empresas abrangendo o período entre 1950 e 2016 para "pouparem" nos impostos devidos, ou ainda a Asiaciti Trust, de Singapura, ambas com escritórios e representações nos mais importantes paraísos fiscais do mundo.
O Consórcio que revelou mais este escândalo sublinha de novo que estes documentos não têm conteúdo que aponte sempre para situações ilegais, notando, todavia, que se trata quase sempre de exemplos de imoralidade, como é o caso do esquema que envolve a rainha de Inglaterra, Isabel II, que investiu milhões através de um destes fundos situados nas ilhas Caimão, um dos paraísos fiscais mais conhecidos e famosos, quase sempre em empresas duvidosas e que viu muitas delas irem à falência, deixando mais de 20 milhões de impostos por pagar ao Estado.
Já o vocalista dos U2, sempre empenhados em causas sociais e activista pelos direitos humanos e com posições muito críticas dos países que não cumprem os seus deveres para com os cidadãos, como esta investigação do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação, recorreu a um fundo em Malta, aproveitando as facilidades que a ilha oferece, para um negócio que teve lugar na Lituânia, cujo direito foi posteriormente passado para o paraíso fiscal de Guernsey, situado nas ilhas britânicas.
Estes documentos começaram a ser revelados apenas no Domingo e só abrangem, para já, figuras europeias, norte-americanas ou do Médio Oriente, sendo de adivinhar, como aconteceu com os Panama Papers, que nos próximos dias comecem a surgir nomes de outras latitudes e longitudes, incluindo África.
Numa primeira abordagem aos documentos, e no que diz respeito a Angola, o jornal suíço Tribune de Genève refere que existem muitas referências a Jean-Claude Bastos, de origem suíça e angolana, proprietário da Quantum Global, e que, apesar de ter no registo várias condenações por gestão danosa, como aconteceu a 13 de Julho de 2011 por um tribunal helvético, é gestor do Fundo Soberano angolano, que foi criado em 2012 com 5 mil milhões de dólares como capital.