Os 60.74 USD que o barril de Brent estava a valer perto das 10:20 de hoje, hora de Luanda, está a meros 5 dólares do valor médio de Dezembro de 2019, o mês anterior à "explosão" da Covid-19, o que significa que o petróleo está no limiar da recuperação total dos efeitos da pandemia. Mas é este um dado adquirido?

Não. E não é porque esta recuperação não está suportada por dados da economia real mas sim em avultados cortes na produção por parte da OPEP+, o "cartel" de que Angola faz parte e que está a subtrair à sua produção normal mais de 5 milhões de barris por dia (mbpd) e ainda mais 1 mbpd que a Arábia Saudita está a retirar à sua produção de livre iniciativa como forma de garantir que estes preços são para consolidar.

A par deste esforço da OPEP+, que agrega os países da OPEP e ainda um grupo de produtores liderado pela Rússia, está ainda a impulsionar o valor do crude o volume recorde de vários anos de estímulos à economia pela Administração norte-americana de Joe Biden, que, na condição de maior economia e maior consumidor do mundo da matéria-prima, é vista pelos analistas como o porta-bandeira da recuperação planetária, a par da China.

O barril, alias, tem estado a corresponder integralmente a todos os estímulos, sejam as injecções de massa monetária nas economias, desde logo a europeia e a norte-americana, ou os cortes na produção, como o demonstra as subidas continuadas nas últimas semanas, mesmo meses, com apenas ligeiras oscilações negativas.

E isso é encarado pelos analistas como um indicador de que existe um forte desejo, alicerçado agora numa possibilidade séria, gerada pelas campanhas de vacinação, de que o efeito devastador da Covid-19 na economia global passe de vez.

Alias, uma das metáforas possíveis para o momento histórico que o mundo está a viver é a da partida de um Grand Prix de Formula 1, com os carros a acelerar a fundo, barulho ensurdecedor, a multidão frenética, o semáforo no vermelho, a passar para o laranja, os carros a acelerar cada vez mais - VRUUMM, VRRUMM - mas o verde teima em não surgir para que os bólides se façam ao asfalto com toda a sua cavalagem...

Ou seja, está quase, mesmo quase, mas ainda não está totalmente ultrapassada a crise.

Mas os sinais não podiam ser melhores, como o deixa em evidência uma notícia de segunda-feira da Reuters, onde esta agência avança que os hedge funds, ou fundos de risco, os mais agressivos do mercado mas também os melhores oráculos para perceber em que terrenos se move a economia global, estão a apostar de novo fortemente no petróleo.

Estes fundos apostam agora em como o crude vai valer muito como investimento nos próximos tempos. Mas isso não é por existir uma forte crença no revitalizar da economia, é porque acreditam que a infra-estrutura produtiva global foi tão destruída pelos efeitos da pandemia e pelo impacto das transformações exigidas pelos cuidados ambientais, que em breve vai escassear petróleo nos mercados.

E as limitações da máquina produtiva global são de tal monta que, como explica ainda a Reuters, isso vai puxar os preços para valores acima dos 70 USD muito em breve.

Os dados são atestados também pelos relatórios feitos por organismos internacionais como a Agência Internacional de Energia, que aponta para uma deterioração substantiva da infra-estrutura de produção e de pesquisa desde 2014, quando o barril de petróleo desceu da fasquia dos 100 para se estatelar no início de 2016 na casa dos 20 USD, levando as "majors" a diminuir o foco na manutenção dos seus blocos, a restringir os investimentos em pesquisa e no aligeiramento dos seus quadros de pessoal.

Alias, Angola é um dos países que mais sentiu na pele estes efeitos, como se vê pela forma como a pesquisa praticamente foi reduzida a zero e as grandes companhias multinacionais reduziram o seu foco produtivo devido ao elevado breakeven médio do petróleo nacional, bastante superior ao da maioria dos países do Médio Oriente, por exemplo.

Para Angola...

Este cenário de recuperação permite algum optimismo nas contas nacionais mas ainda longe de um regresso ao patamar alcançado a partir de 2008, com o barril, como exemplo, a chegar aos 147 USD no Verão desse mesmo ano, permitindo um boom económico como nunca visto até ali.

A produção actual está abaixo dos 1,3 mbpd e em constante declínio devido ao desinvestimento das "majors" a operar no offshore nacional, especialmente a partir de 2014, quando se verificou uma quebra abrupta do valor do barril, que passou de mais de 120 USD para menos de 30 dois anos depois, em 2016.

Apesar das mudanças substanciais na legislação referente ao sector e às alterações profundas nesta indústria decisiva para o País, a produção demora a arrancar para os patamares mais próximos daqueles que se viram no passado.

Para já, com o barril acima dos 60 USD, o Executivo de João Lourenço conta com uma folga de mais de 20 USD em cima dos 39 USD que foi o valor usado como referência para a elaboração do OGE 2021, o que permite encarar com maior optimismo esta saída esperada da crise mundial, apesar dos fortes constrangimentos que a economia nacional enfrenta.

O crude é ainda responsável por mais de 94% das exportações angolanas, mais de 50% do PIB e representa 60% das receitas do Executivo para poder gerir as necessidades da governação, o que, face a uma lenta e demorada diversificação da economia nacional, se traduz numa mais optimista entrada no novo ano e nova década do século XXI.